Religiões Ridículas (Documentário)
Antes que surjam interpretações equivocadas, não estou afirmando que as religiões são ridículas. Mas é preciso reconhecer que, mesmo sem fazer muito esforço, tanto as altas hierarquias das religiões organizadas como grande parte dos fiéis conseguem transformar os ensinamentos dos grandes mestres do passado em motivo de piada, isso quando não transformam em motivo de disputa, conflito, guerra e morte.
Sendo apenas mais uma pessoa capaz de fazer esta observação, mas dotado da capacidade de fazer humor contra tudo o que desafie seu racionalismo e seu liberalismo, o comediante norte-americano Bill Maher escreveu e estrelou o documentário Religulous, uma amálgama das palavras religião e ridículo. já que expõe o lado risível das atuais formas religiosas e da forma como as pessoas se relacionam com elas.
Ao visitar lugares como Jerusalém e o Vaticano e entrevistar adeptos de diversas tradições, Bill Maher explora uma ampla variedade de visões a respeito das grandes religiões mundiais, como o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo.
Ele entrevista católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos, mórmons, cientistas, homossexuais e ateus, sempre buscando explorar algum ponto controverso e extrair situações ora constrangedoras, ora engraçadas.
Seus argumentos estão radicados naquilo que considera serem inconsistências bíblicas, como a concepção da Virgem Maria, o nascimento de Jesus, a incapacidade de se determinar o que aconteceu durante os anos perdidos de Jesus.
Recorrendo ao conflito entre ciência e religião, Maher utiliza a ausência de qualquer evidência concreta que contradiga a teoria da evolução. Em uma das partes mais interessantes do documentário, ele visita o Museu Criacionista em Kentucky, nos Estados Unidos, aonde é mostrado que dinossauros e pessoas viveram ao mesmo tempo, cerca de 5000 anos atrás.
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Armado com citações de personagens famosos ou controversos como Thomas Jefferson, George W. Bush e Osama Bin Laden, há um momento em que fica claro que a intenção do comediante é provar que acreditar e buscar orientações em Deus é uma atitude ridícula e pode ser encarada como um comportamento típico de pessoas que sofrem de distúrbio neurótico.
Para grande parte dos ateus e agnósticos, o filme vem servindo como um material informativo de grande qualidade e precisão jornalística, muito embora tenha sido concebido como uma comédia. Não é à toa que foi dirigido por Larry Charles, o responsável pelos pseudodocumentários (mockumentaries) estrelados pelo ator Sacha Baron Cohen. Além disso, para poder ter acesso aos entrevistados, Bill Maher e sua produção utilizaram um nome falso para o trabalho, intitulado “Uma Jornada Espiritual”.
Apesar de proporcionar alguns minutos de diversão, o tema abordado no filme possui uma profundidade e uma complexidade que não devem ser desprezadas. Se de um lado da tela estão os espectadores ateus, agnósticos, ou aqueles que levam uma espiritualidade sem afiliação religiosa, os quais podem desfrutar da arquitetada exposição do ridículo religioso, do outro estão seres humanos buscando, através de certas formas religiosas, respostas às suas inquietudes existenciais.
De acordo com a perspectiva gnóstica, as religiões são mensagens atemporais revestidas por elementos simbólicos temporais. Isso significa dizer que elas carregam verdades a respeito da existência do universo e da humanidade, e que a sua transmissão só pode ser feita através de elementos representativos, pois a palavra e o conceito jamais podem transmitir estas verdades com exatidão.
É evidente que estes elementos representativos são formados por aspectos temporais e espaciais pertencentes à cultura onde a verdade foi revelada por algum indivíduo que foi capaz de compreendê-la. Este indivíduo, ao transmitir sua experiência da verdade, a qual chamamos Gnosis, precisou fazê-lo mediante o emprego de tais elementos.
Assim são formadas as religiões, e após muitos anos e séculos de existência é natural que sua forma se torne extemporânea e até certo ponto obsoleta, sendo necessária sua substituição por um novo modelo formado por novos elementos extraídos da cultura vigente. Somente assim é possível partir da experiência do humano e chegar à experiência do divino. Do contrário, os elementos religiosos se tornam alvo de riso, ou seja, ridículos.
É inegável que o documentário provoca risadas com algumas situações, mas também é um fato que ele provoca reflexões bastante interessantes sobre a relação humana com as religiões. Se você é um crente, é bem provável que se sinta ofendido com boa parte do documentário, e se você é ateu pode estar certo de que encontrou um bom entretenimento. Mas se você é uma pessoa religiosa no sentido autêntico do termo, haverá de aproveitar as provocações do filme, além de compreender e perdoar seus autores.
Assista abaixo ao documentário completo:
(legendado em português)
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=1P6DbSbqeto]
Samael VIVE!
E…?