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Antropologia Gnóstica

A Doutrina Secreta de Anahuac
22 set 2016

Antropologia Gnóstica

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Como os estudos gnósticos têm progredido extraordinariamente nesses últimos tempos, nenhuma pessoa culta cairia hoje, como outrora, no erro simplista de fazer surgir as correntes gnósticas de alguma exclusiva latitude espiritual.

Se é certo que devemos ter em conta, em qualquer sistema gnóstico, seus elementos helenísticos orientais, incluindo Pérsia, Mesopotâmia, Síria, Índia, Palestina, Egito, etc.; nunca deveríamos ignorar os princípios gnósticos perceptíveis nos sublimes cultos religiosos dos Nahuas, Toltecas, Astecas, Zapotecas, Maias, Chibchas, Incas, Quechuas, da Indoamérica.

Falando francamente e sem rodeios, diremos: a Gnosis é uma atividade muito natural da consciência, uma “philosophia perennis et universalis”. Inquestionavelmente, Gnosis é o conhecimento iluminado dos mistérios divinos, reservados a uma elite. A palavra Gnosticismo encerra dentro de sua estrutura gramatical a ideia de sistemas ou correntes dedicadas ao estudo da Gnosis.

Este Gnosticismo implica em uma série coerente, clara, precisa, de elementos fundamentais, verificáveis mediante a experiência mística direta: A Maldição, desde um ponto de vista científico e filosófico; O Adão e Eva do Gênesis Hebraico; O Pecado Original e a saída do Paraíso; O Mistério do Lúcifer ­Nahuatl; A Morte do “Mim Mesmo; Os Poderes Criadores; A Essência do Salvator Salvandus; Os Mistérios Sexuais; O Cristo Íntimo; A Serpente Ígnea de nossos Mágicos Poderes; A Descida aos Infernos; O Regresso ao Éden; O Dom de Mefistófeles.

Somente as doutrinas gnósticas que impliquem os fundamentos ontológicos, teológicos e antropológicos anteriormente citados fazem parte do gnosticismo autêntico.

Pré­-gnostico é aquilo que, de forma concreta, evidente e específica, apresenta alguma característica de certa maneira detectável nos sistemas gnósticos, mas sendo esse aspecto integrado numa concepção “in toto” alheia ao Gnosticismo revolucionário. Pensamento que certamente não é e, no entanto, é gnóstico.

Proto-­Gnóstico é todo sistema gnóstico em estado incipiente e germinal; movimentos dirigidos por uma atitude muito similar à que caracteriza as correntes gnósticas definidas.

O adjetivo “Gnóstico” pode e até deve ser aplicado inteligentemente tanto à concepções que de uma forma ou de outra se relacionem com a Gnosis como ao Gnosticismo.

O termo “gnostizante” encontra­-se muito próximo a “pré-­gnóstico” em seu significado, já que o vocábulo, em realidade, “stricto sensu”, relaciona­-se com aspectos intrínsecos que possuem certa semelhança com o Gnosticismo Universal; porém integrados numa corrente não definida como Gnosis.

Estabelecidos firmemente esses esclarecimentos semânticos, passemos agora a definir com inteira claridade meridiana o Gnosticismo. Não é demais, neste tratado, esclarecer de forma enfática que o Gnosticismo é um processo religioso muito íntimo, natural e profundo. Esoterismo autêntico de fundo, desenvolvendo­-se de instante em instante, com vivências místicas muito particulares e Doutrina e ritos próprios. Doutrina extraordinária, que fundamentalmente adota a forma mítica e, às vezes, mitológica. Liturgia mágica e inefável, com viva ilustração para a Consciência Superlativa do Ser.

Inquestionavelmente, o conhecimento gnóstico sempre escapa às normais análises do raciocínio subjetivo. O correlato deste conhecimento é a intimidade infinita da pessoa, o Ser. A razão de Ser do Ser é o próprio Ser. Somente o Ser pode conhecer­se a si mesmo. O Ser, portanto, se autoconhece na Gnosis.

O Ser, revalorizando­-se e conhecendo­-se a si mesmo, é a Auto­-Gnosis; sem dúvida esta última é, em si mesma, a Gnosis. O Auto-­conhecimento do Ser é um movimento supra-­racional que depende dele, que nada tem a ver com o intelectualismo.

O abismo que existe entre o Ser e o Eu é infranqueável e por isto o Pneuma, o Espírito, se reconhece e este reconhecimento é um ato autônomo para o qual a razão subjetiva do “mamífero intelectual” é ineficaz, insuficiente, terrivelmente pobre. Auto­conhecimento, Auto-Gnosis, implica na aniquilação do Eu, como trabalho prévio, urgente, inadiável.

O Eu, o Ego, é constituído por somas e subtrações de elementos subjetivos, infra-humanos, animais, que, indubitavelmente, têm um princípio e um fim. A Essência, a Consciência, embutida, engarrafada dentro dos diversos elementos que constituem o Mim Mesmo, o Ego, infelizmente se manifesta dolorosamente, em virtude de seu próprio condicionamento. Dissolvendo o Eu, a Essência, a Consciência, desperta, ilumina-­se, liberta­-se, advindo então como corolário, o auto­-conhecimento ou a Auto-Gnosis.

A revelação legítima tem seu fundamento irrefutável na Auto-Gnosis. A revelação gnóstica é sempre imediata, direta, intuitiva, exclui radicalmente as operações intelectuais subjetivas. Nada tem a ver com a experiência e aglomeração de dados fundamentalmente sensoriais.

A inteligência, ou “Nous”, em seu sentido gnoseológico, embora possa servir de embasamento à intelecção iluminada, nega-­se terminantemente a cair no vão intelectualismo. São evidentes e manifestas as características ontológicas, pneumáticas ou espirituais de Nous (Inteligência).

Em nome da Verdade, declaro solenemente que o Ser é a única Real Existência, ante cuja transparência inefável e terrivelmente divina isso que chamamos Eu, Ego, Mim Mesmo, Si Mesmo, são meramente trevas exteriores, pranto e ranger de dentes. A Auto­-Gnosis, ou reconhecimento auto-­gnóstico do “Ser”, dada a vertente antropológica do pneuma ou espírito, é algo decididamente salvador. Conhecer-­se a si mesmo é ter alcançado a identificação com seu próprio Ser divinal.

Saber­-se idêntico com seu próprio pneuma ou espírito, experimentar diretamente a identificação entre o conhecido e o cognoscente é isso que podemos e devemos definir como Auto-Gnosis. Evidentemente, essa revelação extraordinária nos convida a morrer em nós mesmos, a fim de que o Ser se manifeste em nós.

Pelo contrário, continuar como Ego dentro da heresia da separatividade, afastar­-se do Ser, significa condenar­-se à involução submersa nos “mundos infernos”. Essa reflexão evidente nos conduz ao tema da “Livre Escolha” Gnóstica. O gnóstico sério é um escolhido a posteriori.

A experiência gnóstica permite ao sincero devoto conhecer­-se e auto­realizar­-se completamente. Entenda­-se por autor­realização o harmonioso desenvolvimento de todas as infinitas possibilidades humanas. Não se trata, em absoluto, de dados intelectuais caprichosamente repartidos, nem mera conversa ambígua e sem conteúdo. Tudo o que nestes parágrafos estamos dizendo, traduza­-se como experiência autêntica, vívida, real.

Inexiste, pois, nas correntes gnósticas, o dogma da predeterminação ortodoxa. Isto nos condicionaria, lamentavelmente, numa estreita concepção da deidade antropomórfica. Deus em grego é Theos. Em latim, é Deus. Em sânscrito, “DIV” ou “DEVA”, palavra que se traduz como Anjo ou Anjos. Mesmo entre os mais conservadores povos semíticos, o mais antigo Deus de luz, “EL” ou “ILU”, aparece nos primeiros capítulos do Gênesis em sua forma plural sintética dos Elohim. Deus não é nenhum indivíduo humano ou divino em particular. Deus é Deuses. Ele é o exército da voz, a grande palavra, o verbo do evangelho de São João”; o Logos criador, unidade múltipla perfeita.

Auto­conhecer­-se e realizar­-se no horizonte das infinitas possibilidades implica o ingresso ou reingresso à hoste criadora dos Elohim. Esta é a segurança do Gnóstico. O Ser se a ele se descobriu integramente, e seus esplendores maravilhosos, destroem radicalmente toda ilusão. A abertura do “pneuma” ou espírito divino do homem, encerra o total conteúdo soteriológico.

Se hoje possuímos a Gnosis dos grandes mistérios arcaicos, é porque alguns homens muito santos, devido à sua lealdade doutrinária, conseguiram aproximar­-se do dinamismo revelador do Ser. Sem uma prévia informação sobre Antropologia Gnóstica, seria impossível o estudo rigoroso das diversas peças antropológicas das culturas Asteca, Tolteca, Maia, Egípcia, etc.

Em questões de antropologia profana, perdoem­-me a comparação, se quisermos conhecer resultados, deixemos um macaco em plena liberdade dentro de um laboratório e em seguida observemos o que acontece. Os códices mexicanos, papiros egípcios, ladrilhos assírios, pergaminhos do Mar Morto, estranhos pergaminhos, assim como certos templos antiquíssimos, sagrados monólitos, velhos hieróglifos, pirâmides, sepulcros milenares, etc., oferecem, em sua profundidade simbólica, um sentido gnóstico que definitivamente escapa à interpretação literal e que nunca teve um valor explicativo de índole exclusivamente intelectual.

O raciocínio especulativo, em vez de enriquecer a linguagem gnóstica, a empobrece lamentavelmente, já que os relatos gnósticos, escritos ou alegorizados em qualquer forma artística, orientam­-se sempre para o Ser. É nessa interessantíssima linguagem semi­-filosófica e semi-­mitológica da Gnosis que se apresenta uma série de variantes extraordinárias, símbolos com fundo esotérico transcendental, que em seu silêncio dizem muito.

Bem sabem os divinos e os humanos que o silêncio é a eloquência da sabedoria. As características que especificam claramente o Mito Gnóstico e que mutuamente se complementam entre si, são as seguintes:

1. ­Divindade suprema.
2.­ Emanação e queda pleromática.
3. ­Demiurgo arquiteto.
4. Pneuma no mundo
5. ­Dualismo.
6.­ Salvador.
7.­ Retorno.

A divindade suprema gnóstica é caracterizada como Agnostos Theos, o espaço abstrato absoluto, o Deus ignorado ou desconhecido, a realidade una, da qual emanam os Elohim, na aurora de qualquer criação universal.

Recorde­-se que “PARANISHPANA” é o summum bonum, o absoluto, portanto, o mesmo que PARANIRVANA.

Mais tarde, tudo quanto ao parecer existe neste universo virá a ter real existência no estado de Paranishpana.

Inquestionavelmente, as faculdades de cognição humana jamais poderiam passar além do império cósmico dos Logos Macho­-Fêmea, o Demiurgo Criador, o Exército da Voz (o Verbo).

JAH-­HOVAH, o Pai­-Mãe secreto de cada um de nós, é o autêntico Jeová.

JOD, como letra hebraica é o “Membrum virile” (o princípio masculino).

EVE, HEVE, (EVA), o mesmo que HEBE, a deusa grega da juventude e a noiva olímpica de Hércules, é o “YONI”, o cálice divino, o eterno feminino.

O divino Rabi da Galiléia em vez de render culto ao Jeová antropomórfico dos judeus, adorou ao seu Divino Macho-Fêmea (JAH-­HOVAH), o Pai­-Mãe interior.

O Bendito, crucificado no Monte das Caveiras, clamou com poderosa voz dizendo: “Meu Pai, em tuas mãos encomendo meu espírito”. RAM­-IO, ÍSIS, sua Divina Mãe Kundalini acompanhou­-o na via crucis.

Todas as nações têm seu primeiro Deus ou Deuses como andróginos e não podia ser de outro modo, posto que consideravam a seus longínquos progenitores primitivos, seus antecessores de duplo sexo, como seres divinos e deuses santos, assim como fazem hoje os chineses.

Com efeito, a concepção artificial de um Jeová antropomórfico, exclusivista, independente de sua própria obra, sentado lá em cima num trono de tirania e despotismo, lançando raios e trovões contra este triste formigueiro humano, é o resultado da ignorância, mera idolatria intelectual.

Infelizmente, esta concepção errônea da verdade se apoderou tanto do filósofo ocidental como do religioso afiliado a qualquer seita desprovida por completo dos elementos gnósticos.

O que os Gnósticos de todos os tempos rejeitaram não é o Deus desconhecido, Uno, e sempre presente na Natureza, ou a Natureza in abscondito, mas o Deus do dogma ortodoxo, a espantosa deidade vingativa da Lei de Talião (olho por olho e dente por dente).

O Espaço Abstrato Absoluto, o Deus Incognoscível não é nem um vazio sem limites, nem uma plenitude condicionada, mas ambas as coisas de uma só vez.

O Gnóstico esoterista aceita a revelação como procedente de Seres Divinos, as Vidas Manifestadas; porém, jamais, da Vida Una, não manifestada.

A Deidade Incognoscível é o Espaço Abstrato Absoluto, a raiz sem raiz de tudo quanto foi, é, ou há de ser.

Esta causa infinita e eterna acha-­se desprovida de toda classe de atributos. É Luz Negativa, existência negativa, está fora do alcance de todo pensamento ou especulação.

O mito gnóstico de Valentim, que especificamente nos mostra “os trinta eones pleromáticos” surgindo misteriosos do Espaço Abstrato Absoluto, por emanações sucessivas e ordenadas em casais perfeitos, pode e deve servir como arquétipo modelo de um mito monista que de forma mais ou menos manifesta encontra-­se presente em todo sistema gnóstico definido.

Este ponto transcendental da probolê orienta­-se classicamente para uma divisão ternária do Divino: o Agnostos Theos, (o Absoluto). o Demiurgo, o PAI.

O Mundo Divino, o âmbito glorioso do Pleroma, surgiu diretamente da Luz Negativa, da existência negativa.

Finalmente, o NOUS, espírito ou pneuma, contém em si mesmo infinitas possibilidades, susceptíveis de desenvolvimento durante a manifestação.

Entre os limites extraordinários do Ser e do Não Ser da Filosofia, produziu­se a multiplicidade ou queda.

O mito gnóstico da queda de “Sophia” (a divina sabedoria), alegoriza este terrível transtorno no seio do Pleroma.

O desejo, a fornicação, o querer sobressair como Ego, origina o descalabro e a desordem, produz uma obra adulterada que, inquestionavelmente, fica fora do âmbito divinal, mesmo que nela permaneça aprisionada a Essência, o BUDDHATA, o material psíquico da criatura humana.

O impulso para a Unidade da Vida livre em seu movimento pode desviar­se para o Eu, e na separação fraguar todo um mundo de amarguras.

A queda do homem degenerado é o fundamento da Teologia de todas as nações antigas.

Segundo Filolao, o Pitagórico (século V antes de J.C.), os filósofos antigos diziam que o material psíquico, a Essência, estava aprisionada dentro do Eu como numa tumba, como castigo por algum pecado.

Platão dá testemunho de que esta era a doutrina dos Órficos, e ele mesmo a professava.

O desejo desmedido, o desequilíbrio do regime da emanação, conduz ao fracasso.

O querer distinguir­-se como EGO origina sempre a desordem e a queda de qualquer rebelião angélica.

O autor do mundo das formas é, pois, um grupo místico de criadores macho-­fêmea, ou deuses duplos como Tlaloc, o Deus da chuva e dos raios e sua esposa Chalchiuhtlicue; a da saia de jade, nos cemitérios Maias, Astecas, Olmecas, Zapotecas, etc. Na palavra Elohim encontramos uma chave transcendental que nos convida à reflexão.

Certamente, Elohim se traduz como “Deus” nas diversas versões autorizadas e revisadas da Bíblia.

É um fato inegável, não somente do ponto de vista esotérico, mas também lingüístico, que o termo Elohim é um nome feminino com uma terminação plural masculina.

A tradição correta do nome Elohim é DEUSAS e DEUSES.

O espírito dos princípios masculino e feminino se estendia sobre a superfície do que ainda não tinha forma e a criação teve lugar.

Inquestionavelmente, uma religião sem deusas está a meio caminho do completo ateísmo.

Se queremos de verdade o equilíbrio perfeito da vida anímica, devemos render culto a Elohim (os Deuses e Deusas dos antigos tempos), e não ao Jehová antropomórfico, rejeitado pelo grande Kabir Jesus.

O culto idólatra do Jeová antropomórfico, em vez de Elohim, é certamente um poderoso impedimento para a obtenção dos estados de consciência supranormais.

Nós, os antropólogos gnósticos, ao invés de rirmos cépticos, como os antropólogos profanos, ante as representações de Deuses e Deusas dos diversos panteões aztecas, maias, olmecas, toltecas, incas, chibcha, druidas, egípcios, hindus, caldeus, fenícios, mesopotâmicos, persas, romanos, tibetanos, etc., caímos prosternados aos pés dessas divindades, porque nelas reconhecemos o Elohim Criador do Universo. “Quem ri do que desconhece, está a caminho de ser idiota”.

A desviação do Demiurgo Criador, a antítese, o fatal, é a inclinação para o egoísmo, a origem de tantas amarguras.

Indubitavelmente, a consciência egoica identifica-­se com “JAVÉ”, o qual, segundo Saturnino de Antioquia, é um anjo caído, o gênio do mal.

A Essência, a Consciência, engarrafada dentro do Ego, manifesta­-se dolorosamente no tempo, em virtude de seu próprio condicionamento.

A situação ­ por certo não muito agradável ­ repetida incessantemente nos relatos gnósticos, do Pneuma submetido cruelmente às potências da Lei, ao Mundo e ao Abismo, são muito evidentes para ficarmos insistindo aqui sobre ela.

É evidente a debilidade e a desconcertante impotência do pobre mamífero intelectual equivocadamente chamado homem, para levantar-­se do lodo da terra sem o auxílio do Divino.

Existe por aí um provérbio popular que diz: “A Deus rogando e com o malho dando”.

Só o raio ígneo, imperecedouro, encerrado no fundo da substância obscura, disforme e fria, pode reduzir o “Eu Psicológico” à poeira cósmica, a fim de liberar a Consciência, a Essência.

Com palavras ardentes, declaramos: Unicamente o “Hálito Divino” pode reincorporar­-nos na Verdade; contudo, isto só é possível à base de trabalhos conscientes e padecimentos voluntários.

A posse específica da Gnosis vai sempre acompanhada de certa atitude de estranheza frente a este mundo mayávico, ilusório.

O gnóstico autêntico quer uma mudança definitiva, sente intimamente os secretos impulsos do Ser. Daí a sua angústia, rejeição e embaraço diante dos diversos elementos infra-­humanos que constituem o Eu.

Quem anseia perder­-se no Ser, carrega a condenação e o espanto diante dos horrores do Mim Mesmo.

Contemplar­-se como um momento da totalidade é saber­-se infinito e rejeitar, com todas as forças do Ser, o egoísmo asqueroso da separatividade.

Dois estados psicológicos se abrem diante do gnóstico definido:

a) ­ O do Ser, transparente, cristalino, impessoal, real e verdadeiro.
b) ­ O do Eu, conjunto de agregados psíquicos personificando defeitos, cuja única razão de existir é a ignorância.

Eu superior e Eu inferior constituem apenas duas seções de uma mesma coisa, aspectos diferentes do Mim Mesmo, variadas facetas do infernal.

É, pois, o sinistro, esquerdo e tenebroso Eu superior, médio ou inferior, soma, subtração e multiplicação contínua de agregados psíquicos infra­-humanos.

O denominado Eu Superior é uma artimanha do Mim Mesmo, um ardil intelectual do Ego que busca escapatórias para continuar existindo. É uma forma muito sutil de auto-­engano.

O Eu é uma obra horripilante de muitos tomos: o resultado de inumeráveis ontens, um nó fatal que temos de desatar.

O auto-­enaltecimento egoico, o culto ao Eu, a superestimação do Mim Mesmo é paranoia, idolatria da pior espécie.

A Gnosis é revelação, aspiração refinada, sintetismo conceitual, máximas aquisições.

Evidentemente, tanto em essência como em acidente, Gnosis e Graça são identificáveis fenomenologicamente.

Sem a graça divina, sem o auxílio extraordinário do hálito sagrado, a Auto-Gnosis, a autor­realização ­íntima do Ser, seria algo mais que impossível.

Auto-­salvar­se é o indicado e isto exige plena identificação do que salva e com o que é salvo.

O divino que habita no fundo da Alma, a autêntica e legítima faculdade cognoscível, aniquila o Ego e absorve a Essência em seu “PAROUSIA” e em total iluminação a salva. Este é o tema do “SALVADOR SALVANDUS”.

O Gnóstico que foi salvo das águas fechou o ciclo das amarguras infinitas; franqueou o limite que separa o âmbito inefável do Pleroma das regiões inferiores do Universo, escapou valentemente do Império do Demiurgo porque reduziu o Ego à poeira cósmica.

A passagem através dos diversos mundos, a aniquilação sucessiva dos elementos infra­-humanos, afirma esta reincorporação no Sagrado Sol Absoluto. Então, transformados em criaturas terrivelmente divinas, passamos além do bem e do mal.

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