Mitologia e Guerra nas Estrelas: Companheiros de Jornada
Em sua luta contra as forças do mal, o herói precisa de algo a mais do que simplesmente coragem e os ensinamentos de um mentor. Ele também vai precisar da ajuda, do suporte e da amizade de outros personagens que o acompanham formando uma espécie de equipe. Trabalhando em conjunto, cada um de seus membros aprenderá importantes lições uns com os outros.
Uma vez que o herói tenha dado início à sua jornada, alguns companheiros vão se juntando à ele no caminho. Em o Mágico de Oz, a pequena Dorothy recebe a companhia do Homem de Lata e do Espantalho, da mesma maneira que Frodo é acompanhado por Sam, Merry e Pippin, seus amigos hobbits, e assim como Arthur é amparado pelos Cavaleiros da Távola Redonda.
Nas duas trilogias de Guerra nas Estrelas estão presentes os arquétipos dos companheiros de jornada do herói na forma de guerreiros que se tornam seus amigos ou de donzelas que devem ser protegidas por ele.
Mas ao contrário de alguns mitos e lendas, Guerra nas Estrelas não apresenta donzelas totalmente indefesas, incapazes de ajudar o herói, pois as personagens femininas Padme e Leia são tão espertas quanto corajosas.
Estas mulheres são bastante assertivas, sabem manejar armas e lidam de igual para igual com os personagens masculinos, mas sem perder sua sensibilidade e sua feminilidade.
Mulheres de caráter forte estão presentes em muitas narrativas mitológicas gregas. Mas a personificação do arquétipo feminino representado por Padme e Leia pode ser encontrado em sua plena expressão em Atena, a deusa da sabedoria, da justiça, da guerra e da estratégia.
Padme é delicada e romântica, mas ao mesmo tempo é forte e decidida, pois ocupa o cargo de rainha de Naboo, seu planeta natal. Na mitologia dos antigos babilônicos, o deus Nabu também representa a sabedoria, e Padme, como rainha daquele planeta, é a personificação do poder feminino que abrange a sabedoria, a sensibilidade, a força, a astúcia e a maternidade.
Veja a Série Completa:
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 1
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 2
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 3
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 4
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 5
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 6
Mitologia e Guerra nas Estrelas: Parte 7
Em seu papel de mãe dos gêmeos Luke e Leia, Padme corresponde à Grande Mãe Terra, outra importante figura dos mitos clássicos. Em uma das cenas mais alegres ela é mostrada em seu planeta natal envolta num ambiente bucólico, desfrutando da paisagem dos campos verdes, num clima de romantismo e sensibilidade junto com Anakin Skywalker, em oposição à tecnologia e aos jogos de poder que a circundam.
Mas quando Anakin sucumbe ao lado negro da Força, a compaixão e a amorosidade de Padme se tornam a sua ruína, ecoando o mito grego da rainha Dido, que chora e suplica para que seu amado Enéias permaneça em Cartago. Apesar dos lamentos de seu coração partido, Enéias acaba partindo, e Dido prefere tirar a própria vida da mesma maneira que Padme, quem em A Vingança do Sith, morre logo após o parto porque perdera a vontade de viver.
Sua história termina de forma trágica, mas seus anseios por justiça serão realizados através de sua filha Leia, uma personagem mais adolescente, combinando agressividade e atenciosidade. Seu romance com Han Solo demonstra o mito da princesa que está prestes à desabrochar e se tornar mulher, ao mesmo tempo em que em sua relação com Luke amadurece sua fraternidade e sua ligação com a Força. Luke e Leia representam Apolo e Ártemis, os deuses gêmeos da mitologia grega.
Este processo de amadurecimento do companheiro do herói é melhor visto na figura de Obi-Wan Kenobi. No filme A Ameaça Fantasma, ele visto como um Cavaleiro Jedi cheio de vitalidade e disposição para aprender, mas subordinado ao seu Mestre Qui-Gon Jinn. Já no filme seguinte, O Ataque dos Clones, ele acompanha as aventuras de Anakin Skywalker mais como seu amigo do que como seu mentor.
Com o passar do tempo, a relação de Anakin e Obi-Wan evolui e acaba deixando de ser uma amizade para se converter em uma verdadeira fraternidade. Obi-Wan não só ensina à Anakin tudo aquilo que está ao seu alcance, mas sente carinho por ele e busca ajudá-lo. No desfecho trágico da primeira trilogia, quando Obi-Wan derrota Anakin em Mustafar, sua tristeza pela perda de um irmão fica mais do que evidente.
De maneira alguma a Jornada do Herói é uma aventura individualista, e em muitas narrativas mitológicas vemos que o personagem central precisa da ajuda de companheiros que formem uma equipe. Elas nos ensinam a necessidade de sermos bons parceiros uns dos outros, bem como aceitar as falhas uns dos outros, pois nenhuma equipe é perfeita, afinal, é formada por seres humanos.
A necessidade de lidar com os erros dos membros da equipe é mostrada nas viagens de Ulisses e de Jasão, ou mesmo durante a peregrinação da Sociedade do Anel em direção à Mordor. Apesar disso, fica evidente como um grupo formado por indivíduos que possuem, além de defeitos, qualidades diversas, acaba sendo muito útil para que o herói percorra a sua jornada.
Uma equipe é formada por indivíduos hábeis em certos quesitos, mas portadores de algumas falhas que às vezes colocam em risco ou suscitam novos desafios à aventura. O grande companheiro de Luke Skywalker é sem dúvida Han Solo, um guerreiro muito corajoso e um piloto bastante capaz, mas ao mesmo tempo extremamente cético, pragmático e individualista.
Han Solo representa o pirata mercenário, outro arquétipo clássico da Jornada do Herói e da mitologia. Ele não se importa com que os outros pensam dele, e não parece estar nem aí para os problemas dos outros, a não ser que lhe sejam rentáveis. Seu nome Solo sintetiza seu individualismo, e ele só aceita resgatar a princesa Leia quando Luke revela que ela é rica e pode pagar muito dinheiro em troca do resgate.
Ele está sempre fugindo da lei e dos problemas nos quais acabou se metendo no passado, mas em essência ele é uma boa pessoa. Sua independência é o resultado de sua necessidade de contar apenas consigo mesmo, já que viveu boa parte de suas aventuras anteriores à saga envolvido com pirataria e atividades ilegais, em um ambiente formado por pessoas nada confiáveis.
Nada muito surpreendente para um órfão que foi adotado ainda muito pequeno pelo pirata Garris Shrike, quem o tratou com muito severidade e crueldade. Depois de escapar do pirata, Solo ingressou na escola de formação do Império, mas foi expulso quando impediu um de seus oficiais de torturarem Chewbacca, o Wookiee que, a partir de então, jurou protegê-lo com a própria vida.
Han Solo é um personagem complexo, que mescla o guerreiro e o amante, aquele indivíduo solitário que precisa aprender a se comprometer com uma causa maior do que ele próprio, e abrir seu coração para o amor e a compaixão. Apesar das diferenças e dos erros daqueles com quem convivemos, somente quando nos damos conta de que precisamos das outras pessoas é que somos capazes de nos sentir completos.
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