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2 jul 2012

Mitologia e História dos Jogos Olímpicos

Como sempre acontece a cada quatro anos, espectadores e atletas das mais diversas nacionalidades e religiões estarão reunidos para celebrar um dos mais antigos rituais pagãos da humanidade. Assim como os famosos Mistérios de Elêusis, os Jogos Olímpicos estavam entre os mais importantes rituais de natureza religiosa da antiga Grécia.

Os Jogos Olímpicos celebrados na Antiguidade eram um festival esportivo e religioso realizado de quatro em quatro anos nas cercanias do santuário de Olímpia, localizado no distrito de Elis, na antiga Grécia. Teriam sido inaugurados em 776 a.C. e celebrados até o ano 394 d.C., quando foram proibidos pelas autoridades romanas que pouco a pouco se rendiam aos apelos do Cristianismo.

Quase quatro séculos depois do nascimento de Jesus, o Império Romano estava caindo aos pedaços, pois suas instituições políticas, econômicas, militares e sociais estavam arruinadas.

Havia a necessidade urgente de reunir e fortalecer aquilo que havia sobrado do Império, e o veículo encontrado por Constantino, a fé cristã, foi empregado por seus seguidores, incluindo Teodósio I.

Mas para isso, além de estabelecer que Jesus era o Deus a ser adorado, era necessário combater os outros deuses, e com eles toda a forma de paganismo, a antiga forma religiosa dos povos gregos e que os cristãos da época tanto odiavam.

Além disso, a promoção de Jesus ao cargo de Deus oficial do estado diminuiria o interesse na sua figura histórica, que era aos olhos das autoridades locais mais um rebelde judeu que se proclamava rei e desafiava os detentores de poder do Império Romano.

E foi assim que começou a perseguição à religiosidade pagã, que além de ter proibido as visitas aos templos, abolido os feriados pagãos, extinguido o fogo eterno no Templo de Vesta no Fórum Romano, dispensado as Virgens Vestais e punido aqueles que realizassem ritos em suas próprias casas, acabou decretando o encerramento das celebrações dos Jogos Olímpicos.

Os cristãos da época, alucinados com a possibilidade de verem sua religião sendo a única em todo o mundo, passaram a invadir os templos dos antigos deuses pagãos, saqueando suas riquezas e destruindo as obras de arte, da mesma forma como destruíram em outras épocas valiosos documentos científicos, religiosos e filosóficos que não estivessem de acordo com sua fé.

Portanto, esta arbitrariedade foi nociva não somente à liberdade religiosa, mas também à arte, e especialmente com a proibição dos Jogos Olímpicos, já que escultores e poetas se reuniam quando havia uma Olimpíada para exibirem seus trabalhos. No templo de Olímpia havia uma grande estátua de Zeus, treze metros de altura, toda em ouro e marfim, esculpida pelo renomado Fídias, cerca de 445 a.C. É considerada como sendo uma das sete maravilhas do mundo antigo, mas foi completamente destruída.

Além de seu caráter esportivo, artístico e religioso, os Jogos também serviram como instrumento de disseminação da cultura helênica através da região do Mediterrâneo. Participavam dos Jogos atletas representantes de diversas cidades gregas, aos quais era garantida uma trégua olímpica para que pudessem viajar com tranquilidade e segurança.

Por meio deste intercâmbio cultural circulavam as lendas e os mitos que fundamentavam as práticas pagãs e conciliavam seus ensinamentos esotéricos. E os Jogos Olímpicos funcionavam tanto como forma de expressão pública e simbólica destes ensinamentos aos não-iniciados, como uma seleção de candidatos aos Mistérios de Olímpia.

Dizem algumas fontes que as primeiras edições dos Jogos consistiam em uma corrida de jovens mulheres que competiam pela posição de sacerdotisa no templo da deusa Hera. Havia então uma segunda corrida, desta vez entre homens, com o objetivo de selecionar o consorte daquela sacerdotisa, o qual participaria das tradições religiosas no interior do templo.

Na própria raiz dos Jogos Olímpicos estão os Mistérios do Sexo, os quais eram celebrados desde a antiguidade sob as mais variadas formas e no interior de diversos templos. Todas as Escolas de Mistérios sempre realizaram uma seleção de candidatos, de modo que apenas os mais preparados pudessem receber o conhecimento que os converteria em deuses. Cada templo possuía suas próprias ordálias, e as dos Mistérios de Olímpia exigiam um excelente desempenho físico.

Um dos principais símbolos destes Mistérios era a própria nudez dos competidores, que não exibiam apenas seus corpos, mas também a naturalidade com que o sexo deve ser tratado pelos aspirantes à iniciação. Outra simbologia importante era a chama olímpica, mantida viva durante toda a competição para mostrar que o fogo deve ser constante, assim como o amor religioso, o amor fraterno e o amor sexual.

Além disso, ela representava o fogo que Prometeu roubou dos deuses para entregar à humanidade, o símbolo da divindade que também se expressa no ser humano através de seu poder sexual criador. Por último, a mesma coroa de louros (ou ramos de oliveira) do Fauno, a criatura mitológica que personifica a virilidade e o prazer sensorial.

Se por um lado os símbolos dos Mistérios eram transmitidos visualmente durante os Jogos Olímpicos, havia também a sua transmissão oral que ocorria quando as lendas do surgimento das Olimpíadas corriam pelas bocas dos expectadores. Não existe um único mito para este surgimento, mas isso não é nem um pouco necessário, já que o mito não serve para explicar fatos históricos e sim transmitir ensinamentos velados.

Uma primeira versão da lenda conta que há cerca de 4500 anos atrás, depois que o deus Cronos destronou seu pai Urano, ele e seus quatro irmãos que habitavam o Monte Ida decidiram se estabelecer em Olímpia. Com o passar do tempo, Zeus se tornou o soberano de Olímpia, e seu filho Hércules decidiu homenageá-lo propondo uma corrida, na qual o vencedor receberia ramos de oliveira.

Outra lenda conta que Enomao, rei de Pisa e soberano de Olímpia, foi avisado por uma pitonisa que seria destronado e morto por um dos pretendentes de sua filha, a princesa Hipodâmia. Como precaução, o rei estabeleceu que somente daria a mão da filha àquele que o derrotasse em uma corrida de bigas. Mas Enomao possuía excelentes cavalos e um auriga muito experiente. Assim ele venceu e matou treze pretendentes.

Um dia, o jovem Pélope, filho de Tântalo, pediu a mão de Hipodâmia em casamento, mas Enomau respondeu com sua habitual condição. Acontece que o pretendente era protegido de Poseidon, que lhe cedeu um carro puxado por cavalos alados. Além disso, Hipodâmia subornou um escravo, que sabotou o carro do rei e provocou um acidente que causou a morte de Enomau. Para comemorar a vitória de Pélope e seu casamento com Hipodâmia, os noivos instituíram os Jogos em intervalos de quatro anos.

Mas o mito mais antigo a respeito da origem dos Jogos é contado pelo geógrafo e historiador grego Pausânias. De acordo com seu relato, o dáctilo Herakles (não confundir com Hércules, o filho de Zeus) e quatro de seus irmãos apostaram uma corrida até Olímpia. O vitorioso foi coroado com uma guirlanda de louros, o que explica o prêmio tradicional oferecido aos campeões olímpicos.

Nas lendas da Mitologia Grega, os Dáctilos eram uma raça mítica antiga de pequenos homens fálicos associados à Grande Mãe, que era conhecida como Cibele ou Reia. A palavra dáctilo vem do grego Δάκτυλοι, e significa dedo. Por isso, eles seriam dez em número, à semelhança do numero de dedos das mãos.

Eles desempenham as mesmas funções e possuem os mesmos atributos dos Curetes de Creta, dos Cabires da Samotrácia e dos Coribantes da Frígia, conhecidos por serem magos curadores e hábeis ferreiros. Em muitos mitos eles são os ajudantes do deus grego Hefesto, semelhante ao romano Vulcano, que em sua forja elaborava objetos preciosos e armas de ataque e defesa para os demais deuses. Foram os dáctilos que ensinaram a metalurgia, a matemática e o alfabeto à humanidade.

Os dáctilos são criados quando Reia, a mãe de todos os deuses, foi à uma caverna sagrada no Monte Ida para entrar em trabalho de parto. Agachada para dar à luz, ela introduziu seus dedos na terra, o solo de Gaia, o que provocou o surgimento dos dáctilos. Quando os gregos faziam um juramento solene, eles colocavam os dedos na terra enquanto pronunciavam seu compromisso.

Habilidade e sensibilidade são as principais características simbólicas dos dáctilos. Estas criaturas míticas são nomeadas a partir dos dedos das mãos da Grande Mãe, e é nos dedos que a sensibilidade táctil é extremamente aguçada, bem como é através dos dedos que as maiores habilidades humanas são expressadas.

No entanto, as maiores habilidades dos dáctilos se manifestam em seu trabalho cuidadoso com os elementos alquímicos do fogo e da água, através dos quais eles produzem instrumentos de poder e beleza para os deuses. Em termos esotéricos, isso significa dizer que o espírito (os deuses) se reveste das qualidades (armas, joias, escudos, anéis) que são construídas mediante a conciliação das dualidades (fogo e água).

Os Mistérios de Olímpia apresentavam uma mensagem alegórica de seus ensinamentos esotéricos através dos diversos elementos que compõem os Jogos Olímpicos, a expressão pública ou exotérica destinada a aproximar o povo dos iniciados. A nudez dos competidores, a chama olímpica, a coroa de louros e a mitologia dos dáctilos cumpriam o mesmo papel dos atuais ritos religiosos públicos, como por exemplo as missas e os sat sanghas.

Quando as Olimpíadas começarem e seus eventos esportivos forem transmitidos pela televisão, a imensa maioria das pessoas estará mais preocupada com o desempenho dos atletas, com o quadro de medalhas e com a integração dos povos através do esporte. No entanto, os fundamentos simbólicos das Religiões de Mistérios estarão sendo mais uma vez exibidos aos não-iniciados, e em alguns deles despertarão inquietudes que os levarão a uma investigação mais profunda de seus significados.

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