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15 abr 2012

Antigo Ritual do Fogo na Igreja do Santo Sepulcro

Milhares de cristãos acenderam ontem uma infinidade de velas e tochas a partir de uma chama que sai todos os anos, de maneira misteriosa, das pedras que cercam o túmulo de Jesus, em uma igreja de Jerusalém, enquanto realizavam um antigo ritual do fogo que celebra a ressurreição do Messias.Nuvens de fumaça flutuavam pelo interior de uma Igreja do Santo Sepulcro lotada, repleta de peregrinos que se espremiam carregando cruzes, velas e – num toque de modernidade – celulares que registravam o evento onde a chama ia passando de uma pessoa para a outra.

Junto à multidão que não parava de entoar belos cânticos havia dezenas de policiais israelenses especializados na prevenção de tumultos e integrantes de forças de segurança de fronteira destinados à manter a ordem. Enquanto fotógrafos se esticavam acima das multidões tentando tirar fotos, as mulheres palestinas clamaram em voz alta com o surgimento do fogo, ao mesmo tempo em que alguns peregrinos mais exaltados foram dispersados depois de terem se envolvido em brigas.

Em meio a todos eles havia clérigos trajados com vestes coloridas que designam sua Igreja particular, tentando chegar o mais perto possível da ornamentada câmara no cavernoso Santo Sepulcro, onde muitas tradições cristãs sustentam que Jesus permaneceu brevemente sepultado depois de ter sido crucificado.

Com suas velas acesas, peregrinos e clérigos se misturaram numa correria para fora da velha igreja, buscando passar as chamas para os peregrinos que aguardavam o fogo sagrado nas estreitas vielas de paralelepípedos que cercam o local.

No dia marcado, ao meio-dia, o Patriarca Grego Ortodoxo marcha em solene procissão, acompanhado por seu clero enquanto cantam alguns hinos místicos. Eles marcham por três vezes em torno da Igreja do Santo Sepulcro. Assim que a procissão acaba, o Patriarca Ortodoxo de Jerusalém recita uma oração específica, remove suas vestes e entra sozinho no sepulcro.

Antes de entrar no Túmulo de Cristo, o Patriarca é examinado por autoridades israelenses para provar que ele não carrega meios artificiais para acender o fogo. Os Arcebispos armênios permanecem na ante-sala, onde o anjo estava sentado quando apareceu a Maria Madalena após a ressurreição de Jesus.

Em seguida, a congregação canta o Kyrie Eleison, que em grego significa “Senhor, tende piedade”, até que o Fogo Sagrado espontaneamente desce em 33 velas brancas enquanto o Patriarca está sozinho dentro da câmara do túmulo de Jesus. O Patriarca, em seguida, surge do interior da câmara e recita algumas orações, antes de acender 33 ou 12 velas e distribuí-las à congregação. O fogo é considerado a chama do poder da ressurreição, que seria o mesmo o fogo da Sarça Ardente do Monte Sinai.

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Durante a cerimônia anual, clérigos de alta hierarquia entram na pequena câmara que marca o local da tumba de Jesus. Eles retornam logo depois com velas acesas com o “fogo sagrado”, o qual se diz que é milagrosamente aceso como uma espécie de mensagem aos fiéis vinda do céu. O Patriarca Diosdoros da Igreja Ortoidoxa de Jerusalém descreve assim o surgimento do fogo:

Caminhando em meio à escuridão em direção à câmara interna da Igreja, eis que eu caio de joelhos. Então entoo algumas orações que nos foram entregues através dos séculos e, depois de rezar, espero. Às vezes espero alguns minutos, mas normalmente o milagre acontece imediatamente depois de eu ter orado. Da própria pedra sobre a qual Jesus estava deitado, uma luz indefinível emerge. Ela tem uma tonalidade azul, e a cor pode mudar e tomar diferentes matizes, mas não pode ser descrita em termos humanos. A luz nasce da pedra assim como a névoa pode surgir de um lago, como se a pedra fosse coberta por uma nuvem úmida, mas leve. (…) É um fogo que não queima, pois eu nunca tive a minha barba queimada nestes 16 anos em que eu tenho sido Patriarca de Jerusalém e recebido o Fogo Sagrado. Ele possui uma consistência diferente da do fogo normal que arde em uma lâmpada a óleo. Em um certo ponto a luz sobe e forma uma coluna de fogo, quando eu acendo meus círios. Então saio e entrego o fogo primeiro ao Patriarca Armênio e depois para o Copta, para em seguida distribuí-la para todas as pessoas presentes na Igreja. “

Após o ritual, crentes cristãos espalharão o fogo sagrado, que simboliza a luz de Cristo e sua ressurreição após a morte, por todo o mundo. Entre os visitantes peregrinos havia sacerdotes trajados em mantos negros, mulheres idosas ostentando véus nos quais estavam atadas as flores mais variadas, turistas curiosos e cristãos palestinos vestidos com suas melhores roupas.

Para muitos deles, o ritual celebrado ontem é o ponto alto das celebrações pascais realizadas pelas Igrejas Ortodoxas Orientais nesta semana, já que ao contrário da Igreja Católica utilizam o calendário juliano. Muitos palestinos conseguiram permissão militar israelense para deixar suas cidades na Cisjordânia e entrar em Jerusalém para o evento. Sim, infelizmente, cristãos e muçulmanos palestinos devem pedir permissão militar aos israelenses para visitar os locais sagrados de Jerusalém.

Depois que o fogo sagrado apareceu na Igreja do Santo Sepulcro, começou a fazer o seu caminho para os quatro cantos do mundo. Um religioso grego levou uma tocha acesa pelo fogo em um jato particular fretado pelo Patriarcado Grego Ortodoxo, trazendo a chama sagrada para os crentes na Grécia, e de lá para o Chipre. Representantes de outras igrejas voaram com tochas acesas para a Rússia, Romênia e outros países da Europa Oriental, onde há muitos fiéis ortodoxos.

Duas chamas também foram transferidas para postos de controle militares israelenses perto das cidades palestinas de Belém e Ramallah, e outro foi levado para a fronteira com a Jordânia, onde foi passada para um representante da igreja naquele país, para ser transmitida para os países árabes vizinhos.

O ritual do fogo sagrado, que vem sendo praticada há pelo menos 1.200 anos, apesar de seu caráter sublime e simbólico, é particularmente perigoso, porque a igreja Sepulcro tem apenas uma saída, que é a sua porta principal. Além disso, ambulâncias não são capazes de chegar até à área. Mesmo assim, como na maioria dos anos, o fogo sagrado espalhou-se sem qualquer incidente. Houve apenas um incidente grave registrado na história do ritual, em 1834, quando os peregrinos entraram em pânico e na debandada várias centenas de pessoas foram esmagadas ou sufocadas até a morte.

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