Reflexões sobre a Iniciação e a Evolução Possível ao Homem
A análise dos ensinamentos do Quarto Caminho nos permite considerá-los como uma espécie de metalinguagem espiritual, uma vez que os mesmos nos fornecem ferramentas teóricas para analisar as propostas práticas das mais diversas correntes espiritualistas sob a perspectiva de uma evolução possível ao homem.
Dentro das premissas expostas por estes ensinamentos, existe a concepção de sete níveis de evolução possíveis ao homem, relacionando características psicológicas e graus de desenvolvimento humano, articulando em uma mesma teoria as premissas psicológicas oferecidas por este conhecimento e suas diretrizes de trabalho interior.
Partindo desta abordagem, visando expor as premissas psicológicas mencionadas, cabe ressaltar que, nestes estudos, concebe-se o homem como um ser dotado de três tipos de inteligências autônomas, a intelectual, a emocional e a motora, sendo que cada indivíduo possui em sua personalidade preponderância em uma delas.
Desta maneira, podem-se classificar todas as pessoas segundo um destes três tipos de personalidade, tendo-se, assim, as pessoas intelectuais, nas quais predomina a característica intelectual, as emocionais, com preponderância dos traços emocionais, e, por fim, as motoras, centradas na ação e em suas características motoras.
Cada um destes três grupos de pessoas enxerga a realidade sob a perspectiva da inteligência que tem mais aflorada em si, um fato que gera a divergência de opiniões nos mais diversos âmbitos, uma vez que os critérios de valores empregados na abordagem das situações variam conforme as características subjetivas do indivíduo.
Estes três tipos de pessoas conformam os três primeiros níveis de evolução possível ao homem, que apesar de estarem escalonados entre si, estão agrupados em seu grau de desenvolvimento, uma vez que, estas inteligências autônomas desequilibradas estão articuladas com a personalidade humana e a sua marcante subjetividade.
Partindo da perspectiva de uma evolução possível ao homem, não se pode pautar o trabalho de desenvolvimento interior na personalidade, uma vez que todas as suas características se encontram em um grau com características semelhantes. Portanto, o desenvolvimento humano deve se pautar por outro elemento: a essência.
Dentro do universo interior humano, concebe-se um elemento superior à personalidade e suas inteligências, este é a essência, sendo esta pautada pela imparcialidade e harmonia, de maneira que a sua expressão se revela pelo equilíbrio das três inteligências autônomas, trazendo uma percepção ampla e equilibrada da realidade.
Os indivíduos que alcançaram o equilíbrio de suas inteligências, mediante um trabalho interior, voluntário e organizado, visando à harmonia em suas características, representam as pessoas do quarto nível de desenvolvimento humano, que contém em si certo grau de objetividade na percepção da realidade circundante.
Os níveis superiores apontam para estágios de desenvolvimento humano demasiado elevados, de maneira que, este ensaio se circunscreverá aos primeiros quatro níveis, passíveis de observação direta pela maioria das pessoas, e a sua relação com a concepção de Iniciação presente nas mais diversas tradições esotéricas do ocidente.
Esta concepção aponta para um processo de gradual aprendizado de saberes transcendentes, que oferecem chaves para a superação humana; tendo isto em vista, percebem-se que, quaisquer que sejam os conhecimentos apreendidos, os mesmos não apontam para questões relacionadas à personalidade, mas sim, para a essência.
Comparando diversas tradições esotéricas ocidentais, observa-se que as mesmas tendem a escalonar este processo de aprendizagem em duas etapas bem definidas, os mistérios menores e os mistérios maiores, retomando estas terminologias dos Mistérios de Eleusis da Grécia Antiga e sua didática mistagógica.
Partindo destas etapas, ressalta-se que a primeira versa sobre os mistérios da vida, estando circunscrita a esfera humana e todas as suas características, enquanto a segunda aponta para os mistérios divinos, acessíveis somente àqueles que conquistaram os saberes necessários da etapa anterior relacionada à vida.
Articulando as premissas abordadas do Quarto Caminho às concepções de Iniciação no esoterismo ocidental, pode-se afirmar que os mistérios maiores corresponderiam aos níveis mais elevados do desenvolvimento humano, enquanto os mistérios menores dialogam com o quarto nível de evolução possível ao homem e com a essência.
Em uma perspectiva sagrada, os três primeiros níveis de evolução humana estariam excluídos dos mistérios, pois, sendo profanos, abraçam somente crenças que refletem as características de suas personalidades, um fato que permite a compreensão da existência do fanatismo religioso, um fato pautado pela subjetividade humana.
Diferentemente dos níveis abaixo, a crença das pessoas de quarto nível de evolução humana reflete a essência interior, tão logo é equilibrada e goza de certo grau de objetividade, que permite observar a imanência do sagrado e a necessidade da harmonia das características humanas no desenvolvimento da vida cotidiana.
Tendo isto em vista, percebe-se que, os mistérios menores consistem em um processo de desenvolvimento do equilíbrio das inteligências autônomas da personalidade, de maneira a conquistar a expressão da essência no nosso cotidiano, algo que, além de trazer bem estar psicológico e harmonia, abre as portas da percepção humana.
Neste sentido, pode-se estabelecer um paralelo entre as quatro iniciações elementais e o processo de equilíbrio das três inteligências humanas, uma vez que ambas divisões representam a totalidade de possibilidades de ações e experiências cotidianas, em modelos teóricos distintos, que apontam que o mais além se traduz em harmonia.
Por fim, o processo de Iniciação aponta para a própria vida do iniciado e a sua superação material e espiritual, sendo seus escalões reflexos do próprio desenvolvimento humano e, as variadas terminologias apresentadas pelas diversas tradições espirituais somente distintas unidades de medida para o caminho interior.