Aterrorizados para Consumir (Documentário)
Iniciando com violentas cenas dos protestos do 27º encontro do G8 em Gênova, o documentário sueco de 2003, dirigido pelo italiano Erik Gandini, escancara sem piedade as mazelas da globalização e da sociedade de consumo.
Filmado na China, EUA, Cuba, Itália, Hungria, Índia, Canada e Suécia, e editado pelo compositor Johan Söderberg, esta odisséia visual sobre a natureza destrutiva da cultura de consumo ganhou um dos mais prestigiosos prêmos da categoria: o Lobo de Prata do Festival Internacional de Documentários de 2003 (IDFA), em Amsterdã, além do prêmio Cora Coralina de melhor obra no FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, no Brasil.
O filme levou três anos para ser concluído e foi produzido inicialmente para a televisão pública sueca (dado interessantíssimo, diga-se de passagem). O documentário utiliza a técnica de sincronização labial para formar interessante intercâmbio entre imagem e som, trocando discursos de Fidel Castro, George W. Bush, Silvio Berlusconi e Steve Ballmer (CEO da Microsoft), entre outros.
Editado em estilo mixagem, quase como um trabalho de DJ e VJ em uma única peça, o filme gera um estado de hipnose neurótica semelhante ao que se encontram os consumidores aterrorizados, sempre em busca da felicidade instantânea. É a lógica do “feitiço contra o feiticeiro”, ou a subversão da linguagem do videoclipe e dos comerciais de TV, com loops, edição veloz, música intensa e táticas de manipulação.
Logo de início o espectador é jogado a toda dentro da brutalidade e hipocrisia que convivem com as sociedades capitalistas modernas; da necessidade em ser um “bom consumidor” de um lado, à demanda por ser um “bom produtor”do outro. De fato, se há algo nesta jornada de 50 minutos que merece atenção especial, é o foco desta relação.
Do socialismo Cubano de Fidel ao capitalismo americano, passando pela Índia, onde trabalhadores pobres chegam ao ponto de raspar cascos de navios enferrujados para reciclar metal, o filme denuncia que todos na sociedade moderna somos aterrorizados para nos tornarmos consumistas. O título é um trocadilho inteligente: “surplus” pode ser traduzido tanto como “superávit” como “excesso”, delineando a relação promíscua entre os dois significados.
Assista abaixo ao documentário completo:
(legendas em português)
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