Santidade e Generosidade de São Nicolau
Nesta época de festas de final de ano muitas vezes nos encontramos agitados e estafados, com acúmulo de cansaço durante o ano que se passou. Tudo que está ao nosso redor nos induz a cumprir com padrões que se estabeleceram das nossas celebrações e que repetimos anualmente sem entender muito bem o porquê.
Poucos cristãos sabem que hoje, dia 6 de dezembro, celebra-se a vida de São Nicolau (ou Sinterklaas), mais conhecido como Papai Noel. Sim, é hoje e não no dia 25, reservado ao Cristo. Nicolau nasceu no ano 270, na segunda metade do século III d.C., em uma cidade portuária frenética chamada Patara, região da Ásia Menor, hoje conhecida como Turquia.
A sua família detinha um bom poder aquisitivo para a época, e quando Nicolau ficou órfão ainda menino já se mostrou muito generoso. Seu berço era cristão e durante a sua vida promoveu várias atividades evangelizadoras, peregrinações e demais estudos eclesiásticos.
Existem várias lendas ou versões de sua história. Conta-se que desde o início da adolescência ele compartilhava a sua fortuna entre os pobres e demonstrava uma clara vocação para o sacerdócio.
Há relatos de que certa vez ele soube de um comerciante que atravessava severas dificuldades financeiras e não tinha recursos suficientes para pagar os dotes de suas três filhas. No desespero da miserabilidade, ele tentou prostituir as moças. Ao tomar conhecimento dessa situação, Nicolau anonimamente passou pela residência dessa família e literalmente atirou um saco contendo moedas de ouro e prata, que caíram ao lado da lareira, onde as meias estavam secando. E daí veio o costume de se pendurar meias na lareira para receber presentes. Nicolau ainda teria repetido o gesto com cada filha desde comerciante, as quais puderam montar seus enxovais e serem bem casadas.
Conta-se também que ele recebia em sai casa muitas crianças para contar histórias e entoar cantos, sempre servindo um lanche ao final. Certa vez, observando a pobreza de uma garotinha, enquanto todos iam embora, ele colocou um pacotinho com biscoitos e frutas a mais junto aos sapatos da menina. Assim, também surgiu o costume de se colocar os sapatos nas janelas para receber presentes.
Quando seus pais morreram buscou ajuda de seu tio, que era bispo da cidade. Foi consagrado sacerdote aos 19 anos e eventualmente fora orientado a viajar para a Terra Santa. Durante o percurso, diz-se que ele e aqueles que o acompanhavam sofreram uma forte tempestade cuja intensidade foi diminuindo assim que Nicolau iniciou as suas preces. Conta-se também que ele viajava muito a Alexandria e que seu poder de acalmar tempestades marinhas e arenosas foi o motivo dele ser conhecido também naquela região como padroeiro dos mercadores e marinheiros.
Ao retornar desta jornada, elege viver em Mira, cidade portuária principal da região da Lícia, atual Demre, também na Turquia. Neste movimento escolheu fazer voto de pobreza e doou todos os seus bens. Tendo em vista que ele era bem conhecido na sua antiga região, ao mudar ele decide viver na nova cidade como um mendigo e mantendo a sua rotina religiosa, frequentando a igreja sempre nas primeiras horas do dia.
Quando falece o bispo de Mira, ocorre uma reunião entre os bispos e anciões de toda região vizinha a fim de definir quem deveria assumir o posto. Frente a um impasse que os impedia de finalizar a escolha, esse grupo decidiu pedir um sinal divino e passaram a jejuar e meditar. Eis que na noite seguinte o bispo mais velho recebe uma orientação de Deus indicando que aquele primeiro homem que adentrasse a igreja será o novo bispo. Nicolau tinha o hábito de levanta-se cedo e atender à missa matutina, e ao entrar no recinto, foi recebido e reconhecido como Bispo de Mira.
Não muito tempo após ter sido nomeado, Diocleciano (governador do Império Romano do Oriente) emitiu uma ordem de recolher qualquer bispo cristão que se eximisse de prestar sacrifícios públicos aos Deuses de Roma, típico da perseguição que ocorria na época a todas as facções cristãs. Por conta disso, Nicolau permaneceu encarcerado por dez anos até que Constantino assumiu o poder e elegendo o Catolicismo como religião oficial do Império, recebendo então a anistia.
Conta-se que Nicolau esteve presente no Concílio de Nicéia, sendo ativamente participativo na construção cognitiva e filosófica da doutrina católica durante esses primeiros séculos. Porém, esse seu lado não ficou tão impregnado nas tradições religiosas quanto a sua relação com as crianças.
Ele tinha o costume de recompensar crianças que se comportavam bem e atendiam ao catecismo, conhecido também como padroeiro dos estudantes. Além disso, ele cuidava e protegia qualquer pequeno que sofresse algum mal ou corresse algum perigo. Há inclusive diversas histórias em que este homem santo teria ressuscitado crianças.
São Nicolau faleceu em 6 de dezembro de 342, tornando-se um dos santos mais populares entre os cristãos, sendo o patrono homenageado de mais de 60 igrejas em Roma e cerca de 400 na Inglaterra. Sua generosidade e devoção aos mais necessitados fez dele uma figura referência destes atributos. Posteriormente a sociedade atribuiu a ele uma autoridade e julgamento como forma de controlar e ameaçar as crianças, exatamente o oposto de sua intenção.
Após a unificação do calendário católico, a celebração do seu dia foi fundida ao Natal e atualmente é completamente distorcido a fim de se alimentar um consumismo nas pessoas desde a mais tenra idade. Mais do que decorar árvores, montar presépios e ceiar peru acompanhado de coca-cola é estarmos conscientes da energia das Festas Cristãs. A troca de presentes é um símbolo para a verdadeira troca de energia.
Estes dias não momentos de introspecção, de devoção, de Serviço amoroso próximo e a si mesmo. A verdadeira comunhão com o Divino interno está na intenção do gesto e não nele em si. Que essa oferta se estenda por todos os dias do nosso ano e inunde nossas vidas.