Os Três Veículos da Doutrina Budista
Nos mais variados aspectos da vida, uma mesma verdade pode ser comunicada de muitas formas diferentes, dependendo de quem ensina e de quem aprende. Quando se trata de esoterismo não é diferente, e é muito comum que as sociedades ocultas, as ordens esotéricas e até mesmo as religiões sejam divididas em graus, câmaras e sacramentos.
O mesmo acontece com o Budismo, uma tradição composta por diferentes escolas e linhas de pensamento, as quais são agrupadas em Yanas, palavra que significa Caminho ou Veículo. Mesmo dentro de cada um dos Três Veículos, chamados Hinayana, Mahayana e Tantrayana, podem ser encontradas muitas variações e diferenças, mas sua essência é sempre a mesma.
Em termos históricos, a pluralidade de escolas dentro do Budismo se deve à grande quantidade de ensinamentos deixados por Buda, quem realizou sua missão por várias décadas.
As interpretações existentes são tantas que não é tarefa fácil decidir com unanimidade qual delas deveria prevalecer, ou mesmo sintetizar logicamente todas as visões desenvolvidas com o passar dos anos.
Dependendo de quem eram o aluno de Buda num determinado momento, a explicação sobre determinado aspecto da doutrina podia ser bem diferente, e até mesmo aparentemente contraditória.
Ao contrário de ser algo negativo, esta é uma das grandes vantagens de um ensinamento esotérico que pretende atingir a diversidade da humanidade e ainda se manter atualizável com o passar do tempo. Uma explicação satisfatória dada a uma pessoa mais erudita pode parecer muito complexa e até absurda para alguém de mentalidade mais simples.
No caso do Budismo, seu fundador sempre deixou claro que não desejava apenas ensinar uma doutrina, mas mostrar o caminho que as pessoas podem seguir para seu próprio desenvolvimento. Esta proposta budista leva a um ponto onde todo indivíduo deve decidir por si próprio quais práticas realizar e como interpretar os ensinamentos, ao invés de aderir à uma doutrina fixa e imutável.
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Neste sentido, o Gnosticismo Contemporâneo se aproxima bastante do Budismo, pois também pretende que cada um alcance, no ritmo de sua própria particularidade, a experiência gnóstica, a qual coloca a alma humana em contato direto com sua fonte espiritual, resultando num conhecimento de natureza transcendente que em sua essência não pode ser confinado em quaisquer doutrinas.
Estes caminhos ou veículos apontados pelos Mestres são métodos de prática espiritual, ou forma de se caminhar em direção às dimensões e vivências espirituais. No sânscrito, a palavra Yana significa exatamente Jornada e Caminhada, no sentido de movimento em direção a uma meta. Ela também tem sido entendida como o meio através do qual acontece a jornada, ou seja, o Veículo.
No Budismo, o Veículo Hinayana é baseado numa série de preceitos reunidos durante o Terceiro Concílio Budista, ocorrido em 250 a.C. na Índia, para que contivesse os ensinamentos de Buda. Depois do Concílio, as escrituras foram levas ao Sri Lanka, onde em torno do ano 35 a.C. todas foram traduzidas ao páli, uma forma simplificada do sânscrito.
De início, a maioria dos seus praticantes era composta por andarilhos, que se reuniam apenas nas épocas das chuvas, quando viajar era uma tarefa muito complicada. Com o tempo, alguns edifícios foram sendo doados e a comunidade passou a ser mais fixa. Cerca de um século após a morte de Buda, os monastérios se tornaram a principal forma de preservação dos ensinamentos.
A base do ensinamento do veículo Hinayana são as Quatro Nobres Verdades e os ensinamento acerca da meditação. A grande meta do praticante da tradição Hinayana é atingir o estado de Arhat, já que o estado de Buda é considerado inatingível nesta época em que vivemos. A compaixão é considerada uma prática importante, mas a motivação principal é seguir o caminho espiritual até alcançar a liberação, conhecida como Nirvana.
O termo Hinayana, que significa Pequeno Veículo, apareceu muito tempo depois da constituição de se cânon, de sua prática e de seus monastérios. Isso ocorreu depois do século I d.C., quando ensinamentos de natureza diferente começaram a surgir e foram chamados de Mahayana, que significa Grande Veículo.
Tudo indica que a tradição Mahayana se desenvolveu entre os séculos I a.C. e I d.C., e já em torno do século II d.C. podia ser considerada uma tradição bem definida. Isso ocorreu graças ao mestre Nagarjuna, que deu origem à filosofia do Sunyata (vazio) através de sua explicação de que tudo é vazio, num pequeno texto chamado Madhyamika-karika.
Em torno do século 4 d.C., os mestres Asanga e Vasubandhu escreveram grandes quantidades de ensinamentos acerca do Mahayana. Seus escritos foram realizados em sânscrito, e hoje são chamados de Sutras Mahayana. Então, uma divisão muito clara entre os dois Veículos começou a ser delineada, não tanto em seus fundamentos filosóficos, mas nas práticas propostas.
A filosofia Mahayana é baseada na tradição Hinayana mais antiga, a aceita sem reservas estes ensinamentos. Mas o mesmo não acontece com as suas interpretações tradicionais. Um dos aspectos mais importantes é a interpretação tradicional de que o estado de Buda pode ser atingido apenas por poucas pessoas.
Ao contrário do Hinayana, o veículo Mahayana ensina que todos os seres sencientes (seres que possuem consciência) podem se tornar Budas, e que a única coisa que pode impedir a iluminação completa é a falha em melhorar os comportamentos e os estados mentais. A tradição Mahayana afirma que todos os seus sutras foram ensinados diretamente por Buda, ou pelo menos inspirados por ele.
A meta principal da tradição Mahayana é levar todos os seres sencientes à iluminação. A liberação da existência cíclica e o estado de Buda são vistos como apenas consequências do esforço para auxiliar todos os seres. Na verdade, este pensamento sustenta que a única motivação capaz de conduzir ao estado de Buda é a ânsia altruísta de afastar os seres sencientes do sofrimento.
Mesmo com estas diferenças entre os dois Veículos, é importante ressaltar que por muitos séculos muitos monastérios na Índia estavam repletos de onges de ambas as tradições. A escolha do caminho que levaria à liberação do sofrimento e do ciclo de existências era considerada algo muito íntimo, e deveria sempre ser respeitado.
Pouco tempo depois, em torno do século 6 d.C., do interior da tradição Mahayana emergiram os chamados textos tântricos. Eles são solidamente baseados nas tradições Hinayana e Mahayana, e ainda que sua filosofia apresente apenas pequenas diferenças em relação à do Mahayana, suas práticas pode ser consideradas bastante diferentes.
Dentro da perspectiva budista, antes de começar as práticas tântricas é necessária uma compreensão apropriada das filosofias Hinayana e Mahayana. Apenas co o devido preparo e esclarecimento alguém deveria buscar uma iniciação tântrica ou a permissão de um mestre tântrico qualificado para realizar uma prática tântrica específica.
As práticas do Tantrayana são consideradas ferramentas muito profundas que permitem o alcance muito rápido do estado de Buda. Isso é considerado algo muito importante, não para o próprio indivíduo, mas porque uma sendo sendo um Buda, ele possuirá as melhores qualidades para ajudar aos demais. A motivação central do Tantrayana é realizar o mais rápido possível o estado de Buda, para poder ajudar os demais o quanto antes.
No mundo ocidental, a palavra Tantra ficou associada exclusivamente ao sexo, e esta associação certamente não é benéfica aos propósitos do Tantrayana. De fato, os Tantras estão relacionados às energias que provocam os poderosos estados de iluminação e êxtase, e estas estão completamente relacionadas ao exercício de uma sexualidade aliada à espiritualidade.
Os mestres tântricos reconhecem a importância destes ensinamentos e a delicadeza com que devem ser tratados no contexto do Budismo, e por este motivo se pronunciam a respeito da relação entre Tantra e sexualidade de maneira tão reservada. Mesmo fora do contexto budista, a compreensão e a prática da essência dos princípios contidos nos veículos Hinayana e Mahayana são indispensáveis.
Quero aprender mais sobre o budismo, sempre fiz o Daimoko mas não frequento reuniões, mas gostaria de me dedicar mais é a unica doutrina que me identifico.
Ótimo artigo, muito esclarecedor com certeza vai me ajudar a estipular o que ler primeiro dentro desse contexto. Parabéns ao colaborador.
Olá Rafael,
Obrigado pelas palavras :)
Ficamos felizes por ter ajudado.
Abraços Fraternos!