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21 jul 2012

É Proibido Interpretar a Bíblia

Nos primeiros tempo do Cristianismo, a Bíblia podia ser lida pelas pessoas comuns, e os Sacerdotes Cristãos até encorajavam o povo a estudar livremente as escrituras, não sem antes avisar sobre a obscuridade do texto sagrado. No entanto, hoje em dia a interpretação pessoal das passagens bíblicas é proibida, sendo a Igreja Católica a única legítima intérprete do livro.

Bem recentemente, o Papa Bento XVI declarou que a palavra decisiva na interpretação da Bíblia é da Igreja, através de seus organismos institucionais, e de ninguém mais. Assim, para a Igreja Católica, de nada adianta você pensar que entende o que as passagens bíblicas estejam dizendo; a não ser que seu pensamento esteja de acordo com o que a Igreja diz que é certo, você está errado.

Bom mesmo era ser cristão nos primeiros séculos depois de Cristo, quando apesar da perseguição sofrida por parte de judeus e romanos, era possível interpretar a Bíblia à vontade.

Afinal de contas, a figura central do Cristianismo tinha sido ele mesmo um intérprete autônomo das escrituras, distanciando seu entendimento daquele oferecido pelos rabinos e indo parar na cruz por causa disso.

Naqueles primeiros séculos de desenvolvimento da religião cristã, não havia quaisquer proibições contra a leitura e interpretação bíblica. Como já foi dito, os Sacerdotes estimulavam o povo ao estudo.

Mas aqueles eram mesmo outros tempos, quando não havia ainda uma doutrina católica bem delineada, nem mesmo a definição de quais livros seriam sagrados e quais seriam danados. Além disso, os cristãos ainda não tinham assassinado ninguém em nome de Deus, e os Sacerdotes podiam se casar.

Quem melhor soube aproveitar suas habilidades intelectuais e espirituais para oferecer interpretações alternativas da Bíblia foram os gnósticos, aqueles que sempre preferiram o conhecimento direto de Deus à crença ou fé em uma hierarquia que supostamente o representa. Eles foram os autores de diversos Evangelhos, hoje conhecidos como apócrifos, que não passam de interpretações inspiradas das escrituras judaicas e cristãs.

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Como os gnósticos foram muito bem combatidos naqueles primeiros séculos e suas escrituras queimadas para que não contaminassem a fé do povo com suas heresias, a tranquilidade reinou por algum tempo Idade Média adentro, quando a Igreja Católica já cumpria boa parte de seu pacto com o tinhoso, retirando a liberdade religiosa dos romanos, suprimindo a diversidade espiritual europeia, imiscuindo-se com o poder temporal e dando início à matança de muçulmanos.

Foi então que, em algum momento do século XII, os temíveis gnósticos hereges ressurgiram, desta vez chamados de Albigenses ou Cátaros, para serem perseguidos e assassinados de maneira covarde, sob a acusação de estarem expondo interpretações corrompidas da Bíblia e com isso jogando o povo contra a Igreja. Na verdade, estavam ameaçando os maiores tesouros católicos: poder e riqueza.

Depois da famigerada, bárbara e sangrenta Cruzada Albigense, as hierarquias católicas decidiram, nos Concílios de Toulouse (1229) e Tarragona (1234), proibir a comunidade cristã de ler versões mais simples da Bíblia, e instruir os Bispos a não permitirem que os leigos lessem até mesmo as versões católicas da Bíblia, a não ser que o padre confessor considerasse que uma leitura específica pudesse ser benéfica.

É um tanto absurdo escrever as palavras a seguir, mas hoje os católicos já podem ter uma Bíblia em casa para ler quando quiserem. Porém, mais absurdo ainda é escrever as próximas palavras: mesmo tendo uma Bíblia em casa, ninguém pode interpretar seu conteúdo sozinho, a não ser que tenha fé na Igreja Católica e aceite a interpretação dela como a definitiva.

Isso significa que apenas a Igreja Católica possui a chave de interpretação apropriada e autêntica da Bíblia, e ninguém mais. Esta interpretação é realizada com base nos princípios da Hermenêutica, um emaranhado teórico tão complicado para o sujeito comum, que cria especialistas na decodificação dos textos bíblicos.

O que faz recordar aquela passagem em que Jesus condena os peritos na lei dizendo: “Ai de vocês, peritos na lei, porque se apoderaram da chave do conhecimento. Vocês mesmos não entraram e impediram os que estavam prestes a entrar!” (Lucas 11:52) E de fato, este alerta dado por Jesus também serve a muitos professores gnósticos, que contrariam suas origens quando estabelecem interpretações exclusivas das obras fundamentais do gnosticismo. Mas este é assunto para outra hora.

É preciso se perguntar onde é este lugar que os peritos na lei não foram capazes de entrar, e que ainda teve sua entrada barrada para aqueles que estavam prestes a fazê-lo. Para isso, é necessário antes recordar que todo texto sagrado de qualquer tradição mística ou religiosa pode ser interpretado em pelo menos dois níveis diferentes, um literal e outro esotérico.

O caso da ressurreição de Jesus é um exemplo clássico onde duas interpretações diferentes podem ser elaboradas. Na interpretação literal, Jesus realmente levantou de sua tumba três dias após sua morte. Na interpretação esotérica, Jesus seria a representação da alma de cada um de nós, que depois de passar por um processo de purificação – representado pela morte – volta à vida com novos poderes.

São inúmeros os exemplos de passagens bíblicas que podem ser interpretadas destas duas maneiras, ou outras ainda que aqui não foram mencionadas. Em geral, a mente elabora diversas interpretações a respeito desta ou daquela passagem, formando por vezes um labirinto de onde o próprio indivíduo encontra dificuldade para sair.

Já as interpretações esotéricas são de natureza completamente diferente. Elas são elaboradas pela própria alma, e podem ser comparadas a uma revelação divina que surgem espontaneamente quando a alma, em pleno gozo de sua faculdade intelectiva (consciência desperta), estabelece contato gnóstico (que produz conhecimento transcendente) com determinado versículo, trecho, capítulo ou livro.

Todo indivíduo possui esta capacidade de investigação do sentido oculto das passagens bíblicas, e a verdadeira chave que abre as portas deste lugar que os doutores da lei pretende manter fechados é a gnosis, e não a fé. Na verdade, a fé católica não passa de um alvará que a Igreja Católica pretende expedir autorizando o uso limitado daquilo que acredita ser propriedade de seu monopólio espiritual.

12 Respostas

  1. Maria

    Apesar de todo o passado terrível da igreja ela mudou muito;os mais novos ‘projetos’ da igreja visam justamente restaurar o ‘modelo’ atual, inspirando-se na fé dos primeiros cristãos.Lógico que isso não é fácil e a igreja Católica ainda comete muitos erros,mas é uma igreja maravilhosa e diferente dos tempos da inquisição;não pode ser condenada pelo seu passado.
    Quanto a questão da interpretação da Bíblia concordo em parte,pois deveríamos ser livres sim para interpretar ao nosso modo as mensagens de Deus.Porém,se a pessoa se diz adepta da Igreja e fala por ela,é preciso que ela concorde com a interpretação católica da Bíblia.E é preciso,de fato,que as pessoas que frequentam a igreja tenham algum guia para interpretar a Bíblia,pois ela é de difícil entendimento e pode muito bem acontecer(como já acontece,principalmente com alguns de nossos amigos protestantes) uma má interpretação da bíblia,fundamentalista,usada somente para condenar.A má interpretação é um perigo para as pessoas de cabeça fraca,por isso a igreja estabeleceu isso,somente para ajudá-las.Mas ela não vai condenar ninguém por não acreditar exatamente na doutrina,como antigamente.

  2. Oi Maria,

    Obrigado pelo seu comentário :)

    Se alguém é católico, e sua Igreja Católica exige que concorde unicamente com a interpretação que a própria Igreja fornece, então deve se submeter, como bom fiel, à esta regra. O católico que não se atrever a pensar fora dos limites deitados pela sua Igreja não estará agindo de maneira ilógica.

    Mas, aquele que for ousado e não aceitar os modelos teológicos que castram a capacidade de reflexão ampla e particular, estará agindo como os gnósticos de todos os tempos e os cristãos do passado, que viveram num tempo mais próximo do Jesus histórico e, portanto, mais fiel ao sentido original de suas palavras.

    Acontece que hoje existem muitos católicos que não são mais católicos, pois se a Igreja os alcançasse com a aplicação de seu direito canônico, sobrariam pouquíssimos para interpretar a Bíblia segundo as orientações da Igreja. Estes semi-católicos ou “católicos desnaturados” estão confortáveis sentindo-se parte da Igreja, mas não estão sendo outra coisa senão hipócritas, afirmando aquilo que não praticam.

    Esta conduta hipócrita é generalizada entre pessoas de cabeça fraca, que não pensam por si mesmas e não assumem a responsabilidade sobre sua religiosidade. E pode ser que essa cabeça fraca se deva ao costume tradicional católico de apenas ver as coisas com os olhos dos outros, sem se aventurar pelos caminhos da individualidade.

    Abraços!

  3. Luiz

    Não há como negar que o autor desse texto é extremamente soberbo e mentiroso.

  4. Cristina

    Giordano, para corrigir sua má fé na forma de divulgar a notícia sobre a interpretação da Bíblia, reproduzo o que foi publicado no Estadão. Lá não será encontrada a palavra “Proibido” e nem a ignorância histórica da qual você e a Maria (pseudoCatólica?)padecem. O passado da Igreja não é terrivel Maria ele é glorioso, e a igreja não erra, pois como corpo místico de Cristo é infalível. Os homens santos e pecadores que dela fazem parte, sim. Procurem estudar sobre a história da Igreja para não dizerem asneiras (estudem a verdadeira história da inquisição Católica e não a confundam com a inquisição protestante), mas estudem em fontes confiáveis.

    Sobre a origem da Inquisição o Giordano foi bem desonesto. Esqueceu-se de dizer que os verdadeiros assassinos foram os Cátaros e Albigenses que perseguiam e assassinavam populações inteiras, matavam crianças, tinham tanto ódio à criação de Deus que pregavam a morte por inanição, o aborto (matavam especialmente mulheres grávidas). Que mentira é esta perseguição por causa de Bíblia e riquezas da Igreja, Giordano?

    Giordano, você é meio burrinho. Dentre todas as asneiras que escreveu esta aqui é uma pérola:”O caso da ressurreição de Jesus é um exemplo clássico onde duas interpretações diferentes podem ser elaboradas…” Podem sim, Giordano, mil interpretações podem ser elaboradas para vocês gnósticos, mas não para nós Católicos e é exatamente por isto que somos CATÓLICOS.

    O fato das interpretações esotéricas serem elaboradas “pela própria alma” não significa que sejam VERDADEIRAS. Como vocês, gnósticos conseguem provar que a interpretação da sua alma é divina? E como podem provar que a alma está em pleno gozo de sua faculdade intelectiva? Como vocês ficam sabendo que fizeram um contato gnóstico? Quem é o gnóstico?

    Ia te mandar plantar batatas, mas já que cheguei até aqui resolvi transcrever outra publicação sobre a matéria para que os não-católicos (que não odeiem tanto a Igreja como você) consigam fazer uma leitura mais imparcial. E preste atenção: neste caso, o Papa está falando para a Igreja, viu Giordano e não para você. Pode continuar interpretando sua bíblia gnósticamente sem se preocupar com o que os Católicos estão fazendo.

    Jornal Estado de São Paulo:” Bento XVI reiterou com firmeza, em um encontro com estudantes e professores do Pontifício Instituto Bíblico, que apenas a Igreja Católica pode interpretar “autenticamente” a Bíblia. “À Igreja é destinado o trabalho de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita e transmitida, exercitando a sua autoridade em nome de Jesus Cristo”, defendeu o papa, ao se reunir com cerca de 400 estudantes, funcionários e docentes em comemoração aos cem anos da fundação da entidade pontifícia.Bento XVI também destacou que, sem a fé e a tradição da Igreja, a Bíblia torna-se um livro “lacrado”. “Se as exegeses querem ser também teologia, é preciso reconhecer que a fé da Igreja é aquela forma de simpatia, sem a qual a Bíblia torna-se um livro selado: a tradição não fecha o acesso à Escritura, mas, sobretudo, o abre”, disse. De acordo com o pontífice, “por outro lado, é da Igreja, nos seus organismos institucionais, a palavra decisiva na interpretação da Escritura”, sendo esta “uma única coisa a partir de um único povo de Deus, que tem sido seu portador através da história”. “Ler a Escritura com união significa lê-la a partir da Igreja como seu lugar vital e acreditar na fé da Igreja como a verdadeira chave da interpretação”, explicou Bento XVI. O papa relembrou também que o aumento do interesse pelo livro sagrado católico no decorrer deste século ocorreu graças ao Concílio Vaticano II, especificamente à constituição dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina. Entre os presentes na reunião estavam o prefeito da Congregação para a Educação Católica, cardeal Zenon Grocholewski, e o padre Adolfo Nicolás Pachón, da Companhia de Jesus.

  5. Olá Cristina,

    É com grande satisfação que recebo as suas palavras de agressão às minhas reflexões, pois elas confirmam muitas de minhas suspeitas em relação ao egocentrismo místico, à intolerância religiosa e à atrofia intelectual dos fanáticos de qualquer religião. Vindas de uma pessoa católica, suas críticas desorientadas me fazem renovar meu respeito ao crescente numero de católicos que atualmente são capazes de manter diálogo aberto com outras religiões respeitando suas visões de mundo e de reconhecer as barbaridades cometidas pela sua Igreja sem apoiarem discursos autoritários na medíocre literatura teológica que inverte os papeis de carrascos e vítimas, enganando ainda mais os pobres fiéis que não podem nem sequer interpretar a Bíblia sozinhos.

    Agradeço pela audiência!

  6. Lucia Peixoto

    Entro nesse site pela primeira vez e de imediato simpatizo com o que vc escreve! Creio que a bíblia que dizem ter sido escrita por inúmeros autores (70?) confunde muito e contribuiu para o crescimento de ateus. Como aceitar aquele Deus vingativo e cheio de erros como nós mesmos? Eu não aceito! Todavia, reconheço que existem partes belíssimas na bíblia e por isso devemos lê-la, vamos ter nossa própria interpretação que virá iluminada pela evolução de cada um. O principal é ter certeza no PAI INFINITO e INOMINÁVEL! A certeza em CRISTO! A paz seja conosco!

  7. FRACISCO BRAGA

    bem eu tenho a mente;Posso tudo naquele que mim fortalece.acretito.no amor universal do ser maior .confio em meu amor que mim estrui na minha vida do certo ou errado . ser gnóstico.e amar uns aos outros como Deus nos ama.Um amor puro como foi do seu filho, mas limpo de espirito que já existiu no mundo.dando poderes e liberdade para nos amarmos uns aos outros e nada mais, pois não nos pertence a sabedoria divina.Deus expussou o homem da sabedoria divina,mas deu seu amor para vivermos em amor e não na sabedoria; pois a ele pertence.Vivemos numa matrik,aonde somos levados a pensar com sabedoria que não nos salva, so amado nosso próximo como jesus nos ensinou .A resposta estar no amor so no amor.Pois ninguem e obidiente a Deus para ser salvo.frankbraga

  8. Victor

    “E de fato, este alerta dado por Jesus também serve a muitos professores gnósticos, que contrariam suas origens quando estabelecem interpretações exclusivas das obras fundamentais do gnosticismo. Mas este é assunto para outra hora.”

    Giordano,
    Ótimo texto.
    Peço com extrema gentileza que aprofunde o tema acima
    Abraços fraternais,
    Victor

  9. Osvaldir pereira de almeida

    Muito bom texto. Parabéns. Só uma pequena lacuna. Jesus foi crucificado? Existem registros de escritores da época? Ele realmente ressuscitou ou a ressuscitação e meramente simbólica e esotérica? Bem, desculpe se coloquei mal meu questionamento. Acredito em um Deus amoroso e misericordioso. Não posso acreditar num Deus que escolheu uma parcela pequena da humanidade, e coloca pequena nisso, pois na época do antigo testamento existiam religiões bem mais abrangentes. Um Deus que autoriza que se invada cidades e mate homens, mulheres e “crianças “, que saqueiem e escravizam. A história e contada por aqueles que já faleceram e interpretada pelos atuais que amanhã irão falecer. Não só a respeito de relógio, mas de outros temas, documentos, culturas, conhecimento, edificacoes, etc…foram destruídos por homens fanáticos e radialistas. Temos dificuldades para interpretar acontecimentos mais recentes, imagine então um livro que apesar de trazer grandes lições, apresenta tanta contradição, por exemplo: duas criações para o homem em genesis. A bíblia foi escrita só longo de séculos. Será que a tradição não mudou em uma determinada época? Por interesse político, já que todo líder era religioso ou no mínimo devia se submeter a religião? E depois, no novo testamento, se verificarmos encontraremos textos de homens com Geronimo de sion, se não me engano é esse o nome, que deixou registrado seu arrependimento pelas mudanças que foi obrigado a introduzir no NT por imposição do Papa. Não há dúvidas que as coisas não são bem como pensamos, ou melhor quando nos enfiaram guela abaixo. Se tos livre arbítrio a lógica nos diz que somos livres para interpretar. Só que nesse momento, depois de centenas de anos fica difícil a igreja admitir mudanças, e, principalmente mudar um povo que não lê, não tem senso crítico e é carregado pela opinião de outros. Enfim, fé convencida e não fé convertida.

  10. Olá Osvaldir,

    Muito obrigado pelo seu comentário.

    Nosso interesse é pelo esoterismo da narrativa bíblica e das escrituras sagradas de todas as religiões.

    Abraços Fraternos!
    Paz Inverencial!

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