O Que Acontece Quando Não Acontece o Apocalipse?
Hoje faz um ano que o mundo não acabou. Durante algum tempo, a mensagem apocalíptica podia ser vista por todas as partes nos Estados Unidos. Ela estava nas revistas e nos jornais, e foi distribuída através de milhares de pequenos tratados sobre o assunto. Seus adeptos atravessaram o país em veículos adesivados contendo versos bíblicos do Apocalipse e do livro de Daniel. Houve marchas por Manhattan e o fim do mundo foi amplamente anunciado na televisão e no rádio.
Mas o aviso apocalíptico acabou não passando de um alarme falso. Nenhum terremoto gigantesco arrasou a superfície da Terra e nenhum crente foi arrebatado às nuvens dos elegidos. Harold Camping, o responsável por fixar uma data para o juízo final e fomentar seu anúncio à humanidade, sofreu um acidente vascular cerebral e acabou saindo completamente de cena. Felizmente, a história terminou da maneira como o bom senso suspeitava, e não da maneira como o fanatismo temia.
Casos como este não são únicos, e deixam lições valiosas que costumam ser ignoradas pela maioria dos místicos e religiosos. Talvez uma das mais preciosas seja a respeito da forma como um indivíduo se relaciona com sua fé ou com sua doutrina religiosa após sofrer uma decepção de grandes proporções como a continuação do mundo após a data fixada por um líder carismático ou um profeta divinamente inspirado para a sua destruição.
É no mínimo um artigo de curiosidade saber qual a reação de uma pessoa que está absolutamente convicta de que o mundo vai acabar em um dia específico, mas nada acontece e ele continua do mesmo jeito que era antes. Com certeza ela deve ter algum tipo de explicação para si mesma, ou sua fé em Deus, em sua doutrina ou nos líderes que o inspiraram jamais poderá ser a mesma. É bem provável que ela deixe de existir.
Se a história dos fervorosos seguidores de Harold Camping não é a primeira, certamente é bastante parecida com a dos seguidores de William Miller, assim como são parecidas as consequências para os adeptos desta e daquela. Em 1844, milhares de devotos Milleritas aguardavam a chegada de Deus e a destruição do mundo, o que, como pode ser atestado pela sua capacidade de ler este artigo, acabou não acontecendo.
Mais de um século depois, o jovem psicólogo social Leon Festinger ficou interessado em saber a razão pela qual a previsão fracassada de Miller não contribuíra em nada para diminuir a fé de seus seguidores. Afinal, Miller tinha previsto o fim do mundo por inúmeras vezes, e o mundo teimava em não terminar, algo que deveria ser suficiente para que o número de seus adeptos diminuísse. Infiltrado entre os Milleritas, Festinger concluiu que a introdução de evidências contrárias pode aumentar a convicção e o entusiasmo de um crente.
Leia ainda:
Os Sete Sinais do Apocalipse (Documentário)
Uma Máquina do Tempo no Vaticano
Anunnaki: Aqueles Que Desceram dos Céus
O Segredo Perdido de Fátima
Esta convicção aumenta em virtude daquilo que, como resultado das investigações de Festinger, ficou conhecido como Dissonância Cognitiva, que consiste num estado emocional de tensão derivado de um conflito entre crenças, valores, ideias e evidências incompatíveis ou dissonantes. A intensidade desta tensão varia de acordo com a importância do assunto para a vida do indivíduo.
Esta tensão cria uma necessidade do indivíduo dissolver esta dissonância, que pode ser fonte de grandes sofrimentos psíquicos. Para diminuir esta tensão e alcançar a consonância, é preciso tomar uma decisão de modificar ou abandonar suas crenças, admitindo suas falhas, ou encontrar novas explicações para a manutenção das crenças, apesar das evidências ou das ideias contrárias.
No caso do fim do mundo programado para o dia 21 de maio de 2011, as reações foram as mais variadas. Quando o apocalipse não aconteceu, a data limite para a destruição do mundo foi estendida. Uma das hipóteses levantadas foi a de que seria necessário aguardar um lapso de três dias antes dos acontecimentos, tal como os três dias que se passaram entre a crucificação e a ressurreição de Jesus. Após três dias, foi sugerido que o lapso seria de sete dias, pois este é um número sagrado e recorrente na Bíblia. Decorridos os dias adicionais, estendeu-se o prazo para quarenta dias, o tempo que Noé teve que velejar com sua arca repleta de animais.
Quando as datas limites se esgotaram, outra narrativa foi elaborada. Deus havia submetido os crentes a um teste, pois o Onipotente sabia que eles seriam alvo de chacotas se ele não retornasse no dia assinalado. Ao submeter seus fiéis a uma prova, Deus estava separando o joio – os que o abandonaram diante de sua ausência apocalíptica – do trigo – os que permaneceram firmes aguardando pacientemente os acontecimentos finais. O próprio Camping endossou esta explicação e marcou nova data para o fim do mundo: 21 de outubro do mesmo ano.
No fim, muitos buscaram manter sua imagem intacta sustentando que acabaram sendo presas de uma seita apocalíptica que manipulou com suas crenças, suas emoções e sua fé. Contudo, não é demais ressaltar que não só apenas as seitas apocalípticas que sustentam o advento de uma espécie de fim do mundo, Apocalipse ou fim dos tempos. Em primeiro lugar, o próprio Cristianismo acredita que o filho de Deus retornará à Terra, levará consigo seus fiéis e deixará os infiéis para sofrer tormentos inenarráveis.
A diferença aqui é que os cristãos não apontam datas, ao contrário da ciência, em particular da astronomia, que se não aponta um dia específico no calendário, fixa a destruição completa de nosso planeta para daqui a 1 bilhão de anos, quando o aumento do tamanho do Sol trará ao planeta um futuro de temperaturas escaldantes insustentáveis para a manutenção da vida.
Nesta esteira, mas baseado em paradigmas distintos, o Gnosticismo Contemporâneo também apregoa o fim dos tempos, pois também afirma o caráter cíclico da manifestação do universo, e reconhece a existência de níveis vibracionais que dão forma aos sistemas de estrelas onde as almas emanadas do Absoluto encarnam para colaborar com a perfeição da obra divina. No fim, estas almas retornarão à sua fonte primária, mas antes disso o mundo como o conhecemos deixará de existir.
E quando os gnósticos afirmam que o próximo destes níveis vibracionais chegará ao fim? Não será em 2012, como está bem explicado neste artigo sobre a perspectiva gnóstica a respeito deste ano. É verdade que esta vem sendo uma questão controversa nos últimos anos, devido especialmente ao levantamento de informações desencontradas por parte de alguns indivíduos que lamentavelmente se dedicam a atacar o Gnosticismo e seus Mestres através da difamação e da elaboração de interpretações doutrinárias imprecisas que se esforçam em fazer parecer autênticas.
Contudo, definitivamente, a resposta é que os gnósticos não apontam qualquer data para estes eventos. Sabem que estamos próximos do fim, mas a determinação desta proximidade não só traria prejuízos para os próprios gnósticos e seus propósitos, senão que estaria em desacordo com seus fundamentos teológicos. Afinal, e nunca é demais lembrar que, “daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai” (Mateus 24:36).
“O Reino de Deus não virá por ser esperado”, já disse Jesus no Evangelho de Tomé. Então porque teimamos em achar que o Reino virá se já veio? O Pai Inefável já está aqui, sempre esteve.Jesus idem! Lembrem-se das palavras do Mestre em Atos de João: “Devo ir, mas vou ficar”. Na verdade, Jesus nunca foi porque vive dentro do homem, mas a interpretação literal do Apocalipse de João (que entrou na Bíblia muito tardiamente) e do restante da Bíblia não permitem que se perceba que é perda de tempo esperar pelo Reino, pois é o Reino que está esperando ser encontrado.
Mas e os outros Apocalipses, os que não entraram no cânon, não devem ter crédito? Com qual ficamos? Ora, o Apocalipse de Pedro nega a doutrina das penas eternas e foi excluído por este detalhe. Que fazer? E devemos lembrar, amigos, que a palavra “apocalipse” significa meramente “revelação” e nada tem a ver com cataclismas. Forte abraço a todos.
O fim não tem data, estejais preparado…
Olá Gabriel,
Exato amigo. Lembro ainda que:
“O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior das hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos.” (Mt 13:31-32)
Como você afirmou, ele já está dentro de nós, mas uma vez que a semente de mostarda foi plantada ela não é mais vista… Até que cresce e se torna visível em todo o seu esplendor.
Abraços!
Ola Giordano e Gabriel.
Bom encontrar sábias palavras, pois cada vez que encontro algo valioso para ler, tenho inspirações maravilhosas que quero compartilha-las.
Se Cristo disse que o dia e a hora nem os anjos nem ele mesmo sabem é porque todo ser tem o livre arbitrio para escolher a iluminação, pode nao ser agora, podera ser daqui um milhão de anos, cada um escolhe quando é chegado o momento de dar fim a este vale de lagrimas, no meio deste tempo poderao vir ADVERSIDADES, mas tudo e uma questão de escolhas.
Paz Inverencial a todos.
Contudo, o V.M. Samael menciona o ano de 2.043 como data em que Hercolubus afetará tudo na terra.
Já em outra passagem em Pistis Sofhia ele menciona o ano de 2500!
Poderia esclarecer isto?
Grato