Onde Está a Cabeça de João Batista?
Em diversas partes do mundo, no interior de templos suntuosos e ricamente adornados, lugares santos são reservados para abrigar os restos mortais de um corpo que se acredita ser de João Batista. Estes fragmentos vêm sendo cultuados por séculos. Muito longe dos civilizados centros europeus, em um deserto habitado em sua maioria por nômades, aconteceu uma descoberta que pode mudar a história.
Um monastério remoto de uma igreja copta contém uma ligação bastante misteriosa com João Batista. Seus monges ainda realizam antigas cerimônias praticadas nos tempos de São João. Em seu interior existe a cripta subterrânea onde algo espantoso foi achado enterrado, e os monges isolados deste local acreditam ter encontrado os ossos de João Batista.
Para os católicos, a cabeça mumificada de João Batista pode ser encontrada na Igreja de San Silvestro in Capite, localizada em Roma, na Itália. Na tradição católica, todo altar deve conter uma relíquia, a qual possui um significado específico
Uma relíquia pode ser a parte do corpo de um santo, desde o mais pequeno pedaço de osso, gotas de sangue, pedaços de vestimentas, membros ou até mesmo um corpo inteiro. As relíquias sempre desempenharam uma função muito importante em diversas tradições religiosas. No catolicismo, antes que uma pessoa possa ser declarada santa, funcionários especiais da Igreja devem determinar se estas relíquias deram origem ou inspiraram algum milagre.
Apesar de ser algo muito impressionante entrar em uma das inúmeras Igrejas europeias e ver a cabeça, os braços ou as pernas de um santo, é comum que as pessoas se esqueçam que os ensinamentos do Cristianismo afirmam que em si mesmo o corpo não possui qualquer importância depois da morte, já que do pó viemos e ao pó voltaremos.
Para um cristão tradicional, as relíquias em si mesmas não possuem valor algum. De acordo com os ensinamentos da Igreja Católica, os pedaços de ossos, os pedaços de carne ou os pedaços de vestimentas não devem ser venerados, mas devem servir como recordação da santidade, da dedicação e da fé destes grandes personagens.
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Em essência, as relíquias servem para lembrar os cristãos dos bons exemplos de seus antepassados. Por este motivo existem, por toda a Europa, catedrais magníficas que foram construídas para abrigar estes restos sagrados. Em especial, os restos de São João Batista, um personagem misterioso enquanto vivo, mas que se converteu em um enigma ainda maior após a sua sangrenta execução.
Existem menções de que Jesus e João eram primos. De acordo com o Novo Testamento, existe um paralelo fascinante entre os seus nascimentos. Maria, jovem e virgem, foi informada por um anjo que ela teria um filho, o qual seria chamado Jesus. Isabel, a prima de Maria, já velha e infértil, foi informada pelo mesmo anjo que ela teria um filho, o qual seria chamado João. Além disso, os cristãos consideram que João foi o último profeta da antiga ordem, enquanto Jesus seria o primeiro da nova.
Contam as tradições que quando ainda era muito jovem, João decidiu viver como um eremita, vestido como o antigo profeta Elias, com trajes feitos de pele de animais. Filho de um alto sacerdote da Judeia, João poderia ter desfrutado de uma vida cheia de prosperidade e prestígio. Ele se alimentava de gafanhotos, uma ótima fonte de proteínas que não transmite doenças nem carrega parasitas. Sua sobremesa era mel selvagem.
Não demorou para que uma série de rumores se espalhassem sobre este homem estranho e selvagem. As pessoas perguntavam à João se ele seria o profeta Elias, que tinha prometido retornar do mundo dos mortos, e se ele seria o Messias. João respondia que era apenas uma voz que gritava no deserto, preparando o caminho para o Senhor.
Os manuscritos do mar Morto sugerem que João teria sido membro do grupo espiritual conhecido como os Essênios, e que teria se retirado ao deserto para proclamar a vinda do reino de Deus. Outras narrativas afirmam que João buscou o isolamento no deserto após ter rejeitado as súplicas de amor de Salomé.
João começou a pregar a chegada do fim dos tempos, pois esperava que a profecia de Isaías se cumpriria, quando todos os vales se ergueriam e todas as montanhas se aplanariam. Ele realizava a imersão cerimonial na água como sinal de arrependimento e purificação, um ritual que acabou sendo conhecido tempos mais tarde como Batismo. Por isso, ele foi chamado de João Batista.
Entre os milhares que acabaram rumando até as águas do rio Jordão, um deles era seu primo, um marceneiro desconhecido chamado Jesus. João o reconheceu como o Messias das profecias bíblicas, e pode-se dizer que com o batismo de Jesus por seu primo nas águas do rio Jordão, a religião cristã teve seu início.
Alguns meses depois, João passou a denunciar o rei Herodes de ter raptado sua cunhada Herodíades e passado a viver com ela como esposo. Por este motivo, ele foi preso e levado ante a presença do rei. Surpreendentemente, o rei Herodes passou a ouvir as mensagens de João. Contudo, a rainha Herodíades não tinha intenção de perder sua influência sobre o rei para algum profeta do deserto. Usando sua filha Salomé, a rainha enganou Herodes e o fez prometer à filha qualquer coisa. E ela pediu a cabeça de João Batista em uma bandeja de prata.
Segundo os ensinamentos do Cristianismo hoje espalhados por todo o mundo, João foi reverenciado como o primeiro mártir cristão. Uma busca por seus restos foi iniciada ainda nos primeiros séculos da nova era, e podem ter terminado apenas recentemente, em um remoto monastério egípcio, conhecido como monastério de São Macário.
O deserto do Saara, onde fica o monastério, já foi chamado de “a terra sem tempo”, pois para aqueles que nele vivem o primeiro século da era cristã pode ser considerado como sendo ontem. Por milênios, o oásis onde se encontra este monastério tem sido um ponto de encontro de homens sagrados.
Ali, os monges de tradição cristã copta ortodoxa ainda seguem os ensinamentos entregues por João Batista. Ao menos uma vez em suas vidas, estes monges devem rumar ao deserto em peregrinação solitária. O novo eremita deverá ficar a partir de então sem ver pessoas por diversos anos. Por mais estranho que este tipo de vida possa parecer, os monges afirmam que esta prática confere uma sensação poderosa de liberdade sem limites.
Uma das lendas que cerca o monastério afirma que a ossada de João Batista teria sido trazida até este monastério e escondida em algum lugar sob o solo. Contudo, até o século passado, ninguém havia tentado encontrá-la. Muitas fontes históricas independentes sustentavam que os restos mortais de João Batista tinham sido contrabandeadas para fora da terra santa para Alexandria, onde por algum tempo ficaram à salvo da destruição e da profanação.
Algumas referências afirmavam que no século X estes restos foram trazidos até o monastério de São Macário, mas nunca foi encontrada a especificação de um lugar onde eles pudessem ser achados. Os monges poderiam estar caminhando dia após dia sobre os restos de São João, e por isso uma escavação foi conduzida, até que uma estranha ossada foi encontrada. Para os monges de São Macário, esta é a ossada de João Batista.
Com os recursos científicos disponíveis, esta ossada poderia ser examinada e seria possível determinar se ela data da época de João Batista ou não. Contudo, não poderia ser determinado definitivamente se ela seria ou não de João. E na verdade, isso seria muito pouco relevante para o universo das religiões e da fé.
O que realmente importa é o que estes ossos representam como símbolo para os crentes. O monastério de São Macário, assim como qualquer outro lugar sagrado que afirme conter relíquias de João Batista ou qualquer outro santo, é um lugar de peregrinação, de renovação da fé e de identidade com o passado. As pessoas que vão a estes lugares não estão preocupadas se as ossadas são mesmo ou não de João Batista, mas sim o que estas ossadas, sejam de quem sejam, fazem pela sua fé.
Após a descoberta da ossada, o Patriarca Copta fez uma viagem especial até o Cairo para avaliar e estudar a questão. Ele acabou aconselhando os monges para que não anunciassem oficialmente a sua descoberta, ao que eles obedeceram, evitando qualquer publicidade a respeito. Se o monastério de São Macário é realmente o lugar de descanso do profeta do deserto, então um pequeno grupo de monges ocultou este fato da história, mas a repercussão desta descoberta chegará inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, a todas as partes do mundo.