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10 set 2010

Um Modo Simples de Entender o Sofrimento

Entender o sofrimento é uma das piores tarefas para qualquer ser humano. O próprio ato de refletir sobre esta condição humana tão natural é algo complicado, pois nisso há uma armadilha da qual dificilmente nos damos conta.

Quando estamos passando por um sofrimento qualquer, a clareza mental necessária ao entendimento é atrapalhada pelo turbilhão emocional e pela identificação com a dor. Por outro lado, quando não estamos sofrendo, esta é exatamente a última coisa sobre a qual queremos refletir.

Afastado do sofrimento por muitos anos em sua vida, Sidarta Gautama um dia abriu os olhos para o modo simples como a vida funciona, e a partir daí conquistou a iluminação. Quando chegou a hora de deixar ensinamentos para seus discípulos, apontou justamente para o sofrimento como elemento central neste caminho de despertar interior.

Ao falar deste tema, o príncipe Sidarta utilizou a palavra sânscrita dukkha, que significa inquietação ou perturbação. É interessante observar que no estudo desta palavra podemos encontrar uma forma bastante simples de entender o sofrimento. Os povos que trouxeram o sânscrito para a Índia eram nômades, criadores de cavalos e de gado, e viajavam em carroças puxadas por estes mesmos animais.

Eles usavam o sânscrito antigo, no qual os prefixos su e du significam bom e ruim. Já a palavra kha significa buraco ou furo, como o que é feito numa roda para encaixar o eixo da carroça. Assim, se o furo era bem feito, causava sukkha, ou seja, uma viagem confortável. Do contrário, se o furo era mal feito, causava dukkha, isto é, perturbação, desconforto e inquietação durante a viagem.

Ainda no sânscrito, o termo dukkha pode ser comparado a uma roda de oleiro que, quando colocada em movimento, produz um atrito e um barulho. O seu contrário, sukkha, é representado por uma roda que gira suavemente e sem produzir alarido. Já na China, dukkha é como uma carroça que possui uma de suas rodas quebradas. Assim, sempre que o ponto da quebra toca o chão, o viajante é perturbado por um solavanco.

Do mesmo modo, passamos pela vida sentados em uma carroça com as rodas quebradas. Enquanto não consertarmos as rodas, por mais reta que seja a estrada pela qual transitamos, por mais belos que sejam os jardins que a cercam e por mais rica que seja a nossa carroça, os balanços e solavancos continuarão sendo inevitáveis.

10 Respostas

  1. Ma.Cecilia Coutinho

    Excelente analogia!
    Sou suspeita pra falar, pois adoro a visão oriental das questões humanas e espirituais…

  2. Paulo Sérgio

    Sim a analogia é interessante, mas há que não esquecer a causa das rodas estarem no estado em que estão e como consertá-las da melhor maneira.

    O concerto ou desconcerto dos meios que nos fazem andar ou progredir na vida aparecem nos momentos próprios, dependendo das situações criadas por múltiplos motivos: uns provêm de fenómenos antigos, anteriores ao próprio problema; outros são causados pela situação catastrófica das estradas utilizadas e cuja estrutura móvel não está capacitada para percorrer.

    Percebendo isto, podemos considerar que as consequências são resultado de uma estrutura que deve ser trabalhada de forma a suportar as menos boas e as más estradas, escolhendo a melhor maneira para desenvolver uma tarefa alquímica (de transformação), que promova as condições adequadas para a sustentabilidade do transporte.

    Há que por isso escolher os mecanismos transformadores mais apropriados e com menos efeitos nocivos na própria estrutura da carroça, aproveitando as novas respostas que os tempos aquarianos nos dão, substituindo, sem agressões nem efeitos secundários perversos ou diletantemente demorados, a carroça por um automóvel não poluente, encontraremos assim a solução mais limpa e eficaz para o eterno problema da mobilidade externa e interna do homem; muito será então resolvido de vez e o sofrimento inútil será também debelado!

    Abraço fraterno
    Paulo Sérgio

  3. Paulo Sérgio

    Peço imensa desculpa mas mais uma vez tenho palavras do meu último comentário a corrigir: “conserto” e não “concerto”; “desconserto” e não “desconcerto”, erros devidamente corrigidos neste momento. Pelo possível prejuízo dos seus leitores peço de novo as minhas desculpas.

    Abraço fraterno
    Paulo Sérgio

  4. Rita

    Uma bela reflexão,
    preciso urgentemente consertar as rodas da minha carroça.
    beijos

  5. Paulo Sérgio

    Olá a todos/as!

    Resta-me apenas acrescentar que enquanto permanecer o cinismo e a hipocrisia alicerçada em pensamentos condicionados por bolotas apalavradas e propósitos germinados em pocilgas ambientais, de pouco servirá consertar as suas rodas, acho mesmo que é melhor trocar a carroça por algo mais consistente.

    A ausência de uma mudança qualitativa interna não dará possibilidade a qualquer tipo de alteração, seja das estradas seja dos transportes, e ao agirmos em função de uma mente sensorial (sensual), apagando a nossa mente interior, vamos promovendo, inútilmente, espaços terrestres ou espaciais sem qualidade, quer nas vias de acesso a níveis mais elevados, quer nas estruturas móveis ou evolutivas que propiciam os movimentos ascensionais da espécie humana.

    Abraço fraterno
    Paulo Sérgio

  6. APRENDI A CONVIVER COM MEUS PROBLEMAS E DORES.
    UNS JÁ SE FORAM, OUTROS ME COABITAM, E OUTROS AINDA ESTÃO POR VIR.
    ISSO FAZ TODA A DIFERENÇA.
    GRATA!

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