O Sono da Consciência e os Grupos Sectários
O encontro com a Gnosis é uma experiência especial e transformadora. É um momento muito especial, que coloca o buscador num caminho repleto de descobertas e crescimento. E isso não se faz sem apoio, sem orientação, sem companheiros de jornada que nos auxiliem nos momentos de dificuldade e partilhem conosco suas alegrias e realizações.
É para isso que existem os grupos gnósticos. Neles reúnem-se os companheiros de jornada, e na sua companhia o buscador avança pela senda deixada pelos Mestres, rumo à autorrealização íntima do Ser.
Contudo, infelizmente, muitos são os que passam por uma experiência completamente diferente. Ao invés de ingressarem em grupos que facilitem a sua caminhada, ingressam em verdadeiros grupos sectários, que, entre muitos enganos, usam técnicas de controle mental para coagir os seus membros.
É importante que os estudantes gnósticos se aprofundem neste assunto e aprendam a reconhecer agrupamentos espiritualistas cuja ação perniciosa é baseada em técnicas de coerção psicológica. Em paralelo a isso, precisam compreender a sua própria relação com os estudos de natureza espiritual, para que não sejam vítimas dos abusos que tão comumente acontecem.
A Busca Espiritual Saudável
A proposta central do Gnosticismo Contemporâneo, centrado nos ensinamentos de Samael Aun Weor, é a busca pelo Despertar da Consciência. Sua expressão se traduz em uma infinidade de virtudes, dentre elas, a flexibilidade mental e o respeito por opiniões distintas, características fundamentais do pensamento científico.
O estado cotidiano que experimentamos, e do qual buscamos sair, é denominado Sono da Consciência. Neste estado vivenciamos nossas crenças e conceitos dos mais variados matizes, com apego e identificação.
Observamos, assim, a dicotomia básica da Psicologia Gnóstica, oriunda dos ensinamentos do Quarto Caminho, que irá contrapor o Ego e a Consciência, propondo a superação de um mediante a experimentação do outro. Dentre os ensinamentos há, ainda, um mapa dos possíveis estados psicológicos que experimentamos e daqueles que devemos buscar alcançar; para este estudo nos interessam somente dois deles:
- o estado de vigília e
- o estado de autoconsciência.
O primeiro é o estado que nós vivenciamos cotidianamente, imersos em conceitos diversos, que nos fazem experimentar a realidade de forma condicionada. Os conceitos que a humanidade leva dentro de si são infinitos, podendo ser de diversas naturezas, tais como os políticos e religiosos, para exemplificar os que mais geram debates em todos os ambientes, sobretudo nas redes sociais.
Quando a busca espiritual está fundamentada no Ego, ela se converte numa busca pernicioa, onde as crenças são inabaláveis, tais como a certeza de se estar no caminho correto, em comparação com outros caminhos, que estão errados. Esta crença faz a pessoa observar o mundo de uma forma fantasiosa e mágica, mistificando o cotidiano, alimentando secretamente o orgulho místico e um desprezo por aqueles que não compartilham as mesmas crenças.
O segundo estado mencionado é experimentado mediante a prática da recordação de si, ou ocasionalmente, quando o indivíduo se depara com uma comoção que lhe abala a percepção da realidade. Neste estado, experimenta-se uma percepção profunda da realidade, o que pode levar à saudável reavaliação de conceitos, assim como a sua relação com estes, observando-se o mundo com um olhar científico, sem certezas absolutas, estando-se aberto a avaliar perspectivas diversas, com respeito aos seus semelhantes.
Na prática espiritual gnóstica este estado é fundamental, pois impede que se caia na mistificação do cotidiano. O equilíbrio saudável entre razão e experiência direta faz o buscador se tornar avesso ao orgulho místico e tolerante e compreensivo com as distintas crenças alheias.
Portanto, a busca espiritual saudável se traduz na busca pelo Despertar da Consciência.
Nesta busca espiritual não cabe o medo à danação eterna, a sensação de pertença a um grupo eleito, a obediência cega a supostos líderes iluminados, aos detentores de conhecimentos transcendentais e infalíveis, a crença fanática e fantasiosa, a repetição mecânica de fórmulas rituais, condutas irresponsáveis com a manutenção da própria vida, entre tantos outros comportamentos.
Os Grupos Sectários e as Técnicas de Controle Mental:
A vivência espiritual experimentada no estado de vigília não contribui para o Despertar da Consciência e ainda pode nos conduzir a verdadeiras prisões da alma. Pior ainda quando isso ocorre em grupos que se valem de técnicas de controle mental, visando gerar dependência psicológica em seus adeptos.
Grupos desta natureza, denominados tecnicamente como sectários, podem ser religiosos, políticos ou de qualquer natureza. Eles se caracterizam pela utilização das mencionadas técnicas e pelos efeitos negativos que geram em seus membros, que, tendo suas mentes aprisionadas, abandonam suas vidas em prol de alguma fantasia.
Sugere-se que o leitor pesquise o assunto, pois este texto é uma mera apresentação do tema. Todavia, apresentaremos, em linhas gerais, aspectos presentes em todos os grupos sectários e, de forma concomitante, algumas técnicas de controle mental que são empregadas para manipular as crenças do adepto, de modo a pô-lo a serviço do grupo e de seus líderes, pelos mais variados objetivos.
1) Medo: grupos sectários manipulam as emoções de seus membros de forma sutil mediante a criação de medos irracionais, que assombram àqueles que pensam em se afastar do grupo ou pensam de forma distinta. Medo à danação eterna ou à punição divina são alguns exemplos possíveis.
2) Vaidade: grupos sectários manipulam as emoções de seus membros de forma sutil mediante a alimentação de um orgulho místico, que pode ser traduzido em títulos, hierarquias e fama dentro do grupo sectário.
3) Controle do Tempo: grupos sectários controlam o tempo e a vida de seus membros mediante a imposição de atividades excessivas, algumas vezes assumidas como responsabilidades inerentes a um cargo, que passam a competir com as atividades cotidianas e responsabilidades do indivíduo.
4) Elitismo: grupos sectários induzem seus membros ao fanatismo mediante a indução da ideia de pertença ao grupo dos eleitos portadores da Verdade, cuja missão é transmitir a mensagem de forma compulsiva, buscando ampliar o grupo sectário ou denunciar a falsidade de seus opositores.
5) Líder Carismático: grupos sectários se congregam em torno de um líder carismático, que manipula seus adeptos através de uma hierarquia rígida que é induzida a obedecê-lo. Tende-se atribuir conhecimentos ocultos ou uma percepção superior da realidade a estes indivíduos.
6) Mentiras: grupos sectários se mantém por uma série intrincada de mentiras ou falsificações da realidade, assim como fórmulas prontas para atacar a quem os denunciem. Justificações a vida luxuosa do líder carismático ou ocultação de atividades ilícitas ou imorais do grupo sectário são exemplos desse tipo de conduta.
Ao Buscador:
Nós te oferecemos o começo, e aqui termina o papel de teus Iniciadores. Se tu, por ti mesmo, chegares à compreensão dos Arcanos, merecerás o título de Adepto. (Stanislas de Guaita)
Apresentamos o Caminho, ele é simples e só pode ser vivenciado por cada pessoa dentro de si mesma, ainda que o convívio com outros estudantes e grupos saudáveis seja benéfico, pois estimulam a confrontação de ideias e o aprendizado conjunto.
A prática da espiritualidade saudável deve se pautar pela busca incessante do Despertar da Consciência, mediante o cultivo do estado de autoconsciência com a prática da Recordação de Si. Caso contrário, ela se traduzirá em mera experimentação de conceitos religiosos, que reforçarão o mencionado Sono da Consciência. Este estado negativo pode estar sendo alimentado por grupos sectários, más ervas no Caminho, que agirão com estratégias tais como as citadas, sendo verdadeiros cárceres para a alma do buscador.
Cabe a cada indivíduo refletir sobre a sua prática e sua experiência coletiva, buscando proteger-se de possíveis manipulações e mistificações que tanto dano tem causado a pessoas sinceras. Estas, buscando a Luz, encontraram as mais profundas Trevas, com destruições de lares e famílias. Recordemos que a verdadeira busca espiritual não é conciliável com o medo ou o fanatismo, e se você nota algum destes comportamentos no grupo que frequenta, não hesite em buscar ajuda.
Muito bom esse texto, Ivan. Obrigada.
Excelente texto, bem analisado e sintetizado.
Obrigado, Mariana!
Espero que o texto auxilie muitas pessoas a pensarem em sua relação com o Caminho.
Obrigado, Miguel!
Espero que o texto auxilie muitas pessoas a pensarem em sua relação com o Caminho.
Gratidão por compartilhar de coração.